Por Ana Cadengue
Imagens: Joao Caldas
Formado em Artes Cênicas pela UFRN e ex-integrante dos Clowns de Shakespeare – um dos mais importantes coletivos teatrais do país – o ator Dudu Galvão já tem quase 20 anos de carreira profissional, atuando em dezenas de espetáculos com passagem por importantes festivais nacionais e internacionais, temporadas em espaços culturais dentro e fora do país, além de trabalhar com mestres da cena brasileira contemporânea. Seus mais recentes trabalhos em teatro são “Morte e Vida Severina” que estreou neste mês de abril (2022), em São Paulo (Produção Morente Forte), como o protagonista Severino, e a obra “SINAPSE DARWIN” (Produção da Casa de Zoé, Titina Medeiros).
Dudu Galvão também integrou a famosa montagem de “Sua Incelença, Ricardo III (Clowns), com direção de Gabriel Villela, premiada internacionalmente. Possui formação em dança (clássico e moderno) e acrobacia de solo, bem como é experiente como cantor profissional há dez anos, numa jazz band. No cinema potiguar, protagonizou “Janaína Colorida Feito Céu” e “Sailor”, ao lado de Pedro Fasanaro, curtas premiados mundialmente, além do inédito “A Caixa de Lázaro”, produção local que estreia ainda esse ano, onde também interpreta o personagem protagonista da trama.
Na música, com cerca de 10 anos de carreira, Dudu está prestes a lançar seu primeiro álbum autoral, intitulado “Minha Casa, Meu Jazz”, um EP com seis faixas inéditas, com produção e direção musical de Eduardo Taufic.
A gente bateu um papo com Dudu sobre sua carreira e esse momento importante em sua vida.
CLOWS
“Acho que posso começar falando sobre essa minha transição, né de sair de um grupo de teatro, dos Clowns… Foi no momento ainda de pandemia que tomamos essa decisão juntos, a partir de percepções de interesses diferentes em que o grupo estava seguindo e eu também. E foi de uma forma tranquila, digamos assim, porque uma partida é sempre difícil, mas foi muito no sentido de buscar outras possibilidades criativas, né? Foi realmente um desejo interno, algo que foi sendo maturado, não tinha outro projeto. Mesmo assim, eu dedico toda a minha toda a minha formação a esse grupo com quem trabalhei durante 15 anos, a essas pessoas que fizeram parte dessa história e eu tenho só gratidão por estar me sentindo privilegiado de hoje poder colher bons frutos.
TRANSIÇÃO
Eu sempre me envolvi, acho que talvez de uns cinco, seis anos para cá que eu acabo sendo um pouco mais aberto para me envolver como diretor de movimento e assistente de direção de outros espetáculos em Natal. Além do meu trabalho com música, eu também estava já muito desejoso de me aprofundar e trabalhar com outros grupos, com outros artistas. Isso me enriquecia muito e eu levava de volta para os Clowns. Um desses projetos que destaco foi o Meu Seridó, né? Que foi minha primeira grande direção de movimento. Me agreguei junto a Titina Medeiros e César Ferrário, um espetáculo belíssimo, que inclusive vai estar aqui em São Paulo em julho. Depois, eu repeti a dose no Sinapse Darwin, só que no meio do processo pintou a chance de entrar em cena. Já tinha saído do Clowns e foi uma realização maravilhosa um espetáculo que tem aí uma vida grande pela frente e que eu também vou estar junto.
MÚSICA
É outro projeto que está finalizando, está agora no processo burocrático, é o lançamento do meu primeiro álbum autoral. Já tem praticamente 4 anos que eu gravei a primeira faixa. E aí dei um gás também na pandemia. Depois da saída do grupo, isso também me facilitou muito ter tempo para dedicar as composições e a entrar em estúdio. Fiz uma parceria linda com Dudu Tawfic e o CD está lindo. É um EP na verdade, com seis canções. Já está pronto para ser lançado. Eu estou fazendo a parte de inscrição nas plataformas e de registro também, já que eu preciso me inscrever como compositor para que eu possa ter segurança na distribuição. Eu estou muito feliz, só deixando essa poeira baixar aqui do Morte e Vida Severina pra começar também a cair de cabeça nesse lançamento que deve acontecer até o final do semestre. Ficou um trabalho primoroso, a minha cara… muito jazz e muita brasilidade, nordestibilidade, misturando aí essas linguagens que eu gosto muito. É uma música muito visual, o Dudu Tawfic conseguiu fazer um arranjo cinematográfico para as músicas e eu estou muito ansioso para lançar isso para a galera.
MORTE E VIDA
Essa realização profissional como protagonista de uma grande produção aqui em São Paulo, né? O Morte e Vida Severina tem uma história icônica de premiação internacional e a gente estreou no mesmo palco 56 anos depois e eu ter sido agraciado, escolhido entre centenas de candidatos para viver o personagem principal é um sentimento de… sei lá de… eu posso dizer de abertura de um novo ciclo na minha carreira e também o resultado de muito trabalho. São quase 20 anos que eu sigo assim trabalhando, não para chegar nesse lugar, mas de emprestar o meu corpo, minha voz e minha alma para esse ofício. Então, eu estou absolutamente realizado. A produção é maravilhosa. A gente estreou no último dia 16 e segue em temporada por dois meses e meio até o final de junho no Tuca, numa cidade em que a cultura está voltando a se movimentar de forma mais intensa depois da pandemia flexibilizar um pouco. Sei que isso ainda não terminou, mas a gente consegue agora ter mais circulação de pessoas com a vacina, né? Está um movimento bonito das pessoas voltarem ao teatro, as apresentações lotadas, os nossos ingressos com uma procura muito grande. E é isso. Foi uma identificação imediata em fazer parte desse projeto porque é falar de Nordeste, é João Cabral de Melo Neto, é um grande clássico, né? A gente tem mais dois potiguares na equipe, o diretor musical Marco França e a atriz Badu Moraes, que já mora aqui há cinco anos e é de Parnamirim e está arrasando como todo o elenco maravilhoso, outros nordestinos migrantes.
SEVERINO
Não tinha como dizer não quando eu recebi a ligação dizendo que eu tinha sido escolhido para viver o Severino, né? É um personagem muito desafiador. Talvez o maior desafio da minha vida como ator. E com certeza, ele vai sendo moldado com essa temporada, mas já tá aí num lugar muito gostoso essa coisa do merecimento, de você enquanto artista conquistar coisas que te fazem continuar trabalhando. Então, está sendo um momento muito bonito e quero te agradecer também por estar tendo essa oportunidade de falar mais sobre isso.
Morte e Vida Severina volta ao Teatro Tuca após 56 anos
A mais popular obra de João Cabral de Melo Neto retornou neste mês de abril ao Teatro Tuca, local em que estreou, em 1965. A nova montagem recebe a direção de Elias Andreato e reúne, no palco, 13 jovens talentos de várias cidades do Brasil, principalmente do Nordeste, e cinco músicos, que darão tom às composições de Chico Buarque, sob a direção musical de Marco França.
A produção do espetáculo é da Morente Forte Produções Teatrais e envolve uma
equipe renomada de criativos. O cenário tem a assinatura do artista que nos deixou recentemente, Elifas Andreato; os figurinos, de Fábio Namatame; desenhos de luz de Elias Andreato e Júnior Docini; desenho de som, de Marcelo Claret; e direção de movimento, Roberto Alencar.
A ideia de produzir Morte e Vida Severina partiu de um sonho da dramaturga e
produtora Célia Forte que, aos 16 anos, assistiu a peça no extinto Teatro Markanti. E a realidade se fez. “Trazer à baila, nesse momento, a poesia de João Cabral de Melo Neto e as composições de Chico Buarque, num Brasil com tantos ´brasis´, é tão necessário e forte, tão necessário e poético, tão necessário e seco e tão necessário e vivo”, acredita.
Se esse espetáculo marcou a vida da dramaturga e produtora, a ponto dela ter certeza, ainda na adolescência, que “queria fazer isso da vida”, o diretor do espetáculo, Elias Andreato, tem uma forte relação com o autor. “Fiz minha estreia no teatro amador com a peça O Rio, de autoria de João Cabral de Melo Neto. Essa montagem de Morte e Vida Severina reúne um elenco de jovens talentosos e uma equipe de ´fazedores de arte´ comprometida em criar um espetáculo emocionante em sua essência”, conta Andreato.
A obra Morte e Vida Severina é um auto de natal pernambucano, publicado em 1954/55, e que teve sua estreia nos palcos na inauguração do Tuca, em 1965. Na época, Roberto Freire era o diretor do teatro e partiu dele o convite para Chico Buarque musicar a obra de João Cabral de Melo Neto, o que acabou se transformando em um sucesso que atravessou fronteiras.
A peça faz um relato sobre a vida e trajetória árida do povo do sertão nordestino, ainda desconhecidas pela maioria. O sofrimento enfrentado por Severino, na montagem representado por Dudu Galvão, ator natural do Rio Grande do Norte, é um retrato – ainda atual – dos migrantes nordestinos que buscam uma existência mais digna nas grandes cidades.
Em sua viagem rumo a uma vida melhor, Severino se depara com situações de morte, desespero, de miséria e fome. Ao chegar à capital pernambucana se desilude, pois a realidade que encontra ali não é muito diferente da do sertão. Pensa em suicídio, mas o nascimento de uma criança faz renascer sua esperança, apesar das dificuldades. Assim, a saga nordestina se desenha, revelando a alma de um povo que caminha forte em sua fé.
Para Dudu, “é um sonho de muito tempo, acontecendo no momento certo. Estrear em São Paulo, voltar a pisar no teatro com essa obra magnífica, sendo meu primeiro protagonista, depois de quase vinte anos de carreira, um nordestino no centro do palco! É muita emoção. Quando recebi a notícia, me senti
muito honrado em poder dar voz a esse personagem tão icônico e desafiador. Arrumei as malas e saí de Natal com muita alegria no peito”, vibra o potiguar, escolhido entre centenas de artistas que mandaram seu material para as audições no começo deste ano.
Nesse poema, João Cabral de Melo Neto abusa da linguagem poética sem deixar de lado aspectos sociais e políticos. O texto marca, inclusive, o momento em que a arte é usada para manifestações políticas no país. Os versos são curtos, sonoros (geralmente com sete sílabas) e quase musicais, lembrando as poesias de cordel. A sonoridade, portanto, é um elemento importante da obra. “Imagine um restaurador diante da Monalisa. Me sinto assim mexendo com essa obra de João Cabral e Chico Buarque. Pôr as mãos no sagrado requer muito cuidado, respeito e escuta. Preciso deixar os poetas ecoarem livremente sem que eu os atrapalhe. Deságuo a cada dia e agradeço por esse privilégio”, afirma o diretor musical, Marco França.
Para a produtora Selma Morente, a temática do texto é urgente e necessária. “Revisitar essa obra em um momento tão difícil e desafiador é dar voz aos tantos Severinos espalhados pelo país, que não fogem só da seca, mas do preconceito, da fome, da exclusão, da marginalização”, acredita Morente.
O diretor Elias Andreato concorda: “Nesse país tão plural, doloroso e esperançoso, somos todos Severinos em busca de poesia e dignidade”.
A nova montagem de Morte e Vida Severina emprega, direta e indiretamente, cerca de 150 profissionais e fica em cartaz até o dia 26 de junho no TUCA, em São Paulo.
Ficha Técnica
Da obra de JOÃO CABRAL DE MELO NETO
Músicas de CHICO BUARQUE
Direção Geral ELIAS ANDREATO
Direção Musical, Arranjos, Aboios e Lamentos (original) MARCO FRANÇA
Voz MARIA BETÂNIA
Poema Seca de DJAVAN
ELENCO
DUDU GALVÃO – Severino
ANDRÉA BASSITT – Cigana 2
BADU MORAIS – Mulher da Janela
BEATRIZ AMADO – Retirante e flauta
FERNANDO RUBRO – Retirante
GABRIELLA BRITTO – Retirante
IVAN VELLAME – Retirante
JANA FIGARELLA – Funeral
JOÃO PEDRO ATTUY – Coveiro 1
JONATHAN FARIA – Mestre Carpina
PABLO ÁSCOLI – Retirante
PATRICIA GASPPAR – Cigana 1
RAPHAEL MOTA – Coveiro 2
MÚSICOS
BEATRIZ FRANÇA – Contrabaixo acústico e baixo elétrico
BRUNO MENEGATTI – Rabeca e violão
DICINHO AREIAS – Sanfona
RAPHAEL COELHO – Percussão
RICARDO DUTRA – Viola e violão
Cenário ELIFAS ANDREATO
Figurino FABIO NAMATAME
Desenho de Luz ELIAS ANDREATO e JÚNIOR DOCINI
Desenho de Som MARCELO CLARET
Direção de Movimento ROBERTO ALENCAR
Assistente de Direção Geral JÚNIOR DOCINI
Assistente Direção Musical, Preparação Vocal, Pianista Ensaiador MARCELO FARIAS
Assistente de Cenário LAURA ANDREATO
Cenotécnico – FABIN CENOGRAFIA e EDÉSIO BISPO
Assistente de figurino – ANDRÉ VON SCHIMONSKY
Modelista – JULIANO LOPES
Costura – FERNANDO REINERT e MARIA JOSÉ DE CASTRO
Operador de Som THIAGO H. SCHAFFER
Microfonista GABRIEL VILAS
Operador de Luz JUNIOR DOCINI e RAFA INÁCIO
Contrarregragem/Camareiros FÁBIO OLLYVER e TONINHO PITA
Coordenação de Comunicação BETH GALLO
Assessoria de Imprensa – MORENTE FORTE – THAIS PERES
Programação Visual LAERTE KÉSSIMOS
Fotografia JOÃO CALDAS F°
Assistente de fotografia: ANDRÉIA MACHADO
Filmagem JADY FORTE
Redes Sociais e Textos ANA PAULA BARBULHO
Coordenação Administrativa DANI ANGELOTTI
Assistência Administrativa ALCENÍ BRAZ
Assistente de Produção NANA GENOVEZZI
Administradora da temporada MAGALI MORENTE LOPES
Produção Executiva MARTHA LOZANO
Produtoras SELMA MORENTE e CÉLIA FORTE
Serviço
Morte e Vida Severina
TUCA (670 lugares)
Rua Monte Alegre 1024, Perdizes, São Paulo
Sexta e sábado: 21h
Domingo: 19h
Ingressos:
Sexta-feira – R$ 80
Sábado e domingo – R$ 100
VENDAS: https://bileto.sympla.com.br/event/71954/d/129792/s/809556
Ou nas bilheterias do TUCA.
TEMPORADA ATÉ 26 DE JUNHO
Todas as últimas sextas-feiras haverá sessão em Libras.
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