Sobre

Vaca Profana

“De perto, ninguém é normal”. Pelo que tenho visto e conversado com amigos, Caetano nunca foi tão certeiro. Quase todo mundo que conheço toma algum ‘remedinho’. Seja para conseguir dormir, tratar depressão, controlar a ansiedade. E, não, não é só gente da minha meia inteira idade. É todo mundo mesmo. Crianças agitadas se tornam hiperativas e são medicadas. Adolescentes buscam seu lugar no mundo e viram melancólicos depressivos. Adultos não conseguem dormir por tantos motivos e têm que ser dopados. Ansiedade campeia, crises de pânico, tristeza.  Ah, deixa de ser exagerada! Exagerada? Eu? Tá, posso até forçar um pouco a barra ao generalizar, mas não tô exagerando naum. Basta um pouquinho de atenção ao redor ou escutar colegas de trabalho, parentes e amigos que você constata que a sociedade caetaneou. Mas, caetaneou errado, né? Quando Gal rasgou o vozeirão em Vaca Profana naquele longínquo 1984, eu era apenas uma adolescente alta com bustão. A identificação foi quase imediata. Se não divinas, minhas tetas não eram passíveis de ser ignoradas. Além disso, sempre respeitei mais minhas risadas e aquela coisa toda de colocar os cornos “pra fora e acima da manada”, derramar “o leite mau na cara dos caretas” e a “movida Madrileña”… Tudo aquilo me pegou de um jeito traduzir-se. Sempre tive horror em ser igual e ter só uma tribo. Fazer parte de vários grupos e rodas e turmas me permitiu ser várias e aprender com todos e me divertir e viver intensamente. Apesar de me considerar tímida em determinados aspectos e situações, noutras só puro acontecimento. Ou era. É, porque o meu não ser normal está sendo o normal desse mundo que caetaneou errado, que tem crises de ansiedade e precisa também de ‘remedinhos’ para dormir ou não enlouquecer. Respira. Respirar fundo e profundamente, expirar lentamente e tentar não se perder de mim. Respeito muito minhas lágrimas, mas continuo além disso e me buscar é exercício diário. “A vida não é só trabalhar”, já dizia Pepe Mujica, “há que se deixar um bom capítulo para a loucura que tenha cada um. Porque uma coisa que fazes por obrigação não é liberdade. Só és livre quando gastas o tempo de sua vida em coisas que te motivam, que gostes”.

SONHOS E PESADELOS

HUMOR | Ali Babá e os Quarenta Ladrões