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O GAROTO DO SONHO ETERNO

“Porque se chamavam homens/Também se chamavam sonhos/E sonhos não envelhecem.” — Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges

A semana começou muito triste com a morte de Lô Borges, o eterno menino do Clube da Esquina. Seu nome de batismo, Salomão Borges Filho, soa como o de um adulto — mas a redução para simplesmente o transformou em um eterno garoto. E ele sempre foi o mais novo da turma. Partiu cedo demais, aos 73 anos.

Aquela constelação de cantores e compositores mineiros nunca chegou a formar uma banda em sua configuração clássica. Era, antes de tudo, uma turma de amigos: Milton Nascimento (83), Márcio Borges (79), Wagner Tiso (79), Toninho Horta (76), Flávio Venturini (76), Beto Guedes (74), Lô Borges (73), além dos letristas Fernando Brant (falecido em 2015, aos 69 anos) e Ronaldo Bastos (77). Reuniam-se, lá pelos idos dos anos 1960 e 1970, para fazer o que sabiam de melhor: arte.

Dessas reuniões nasceram Clube da Esquina (1972) e Clube da Esquina II (1978) — obras que atravessaram o tempo e moldaram parte da alma musical do Brasil.

Mas não me cabe aqui posar de crítico ou historiador musical. Até porque tentar analisar esses dois discos — e o que muitos chamam de movimento Clube da Esquina, fruto de um encontro quase acidental entre tantos gênios — seria pretensão demais para uma simples homenagem ao garoto Lô Borges.

Fique com os bons, meu caro.

E continue fazendo arte — onde os sonhos não envelhecem.


PORQUE HOJE É SEXTA-FEIRA

1 – Marielle, presente!

A Universidade de Harvard anunciou que concederá, em 2025, a Medalha W.E.B. Du Bois à vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018 — a primeira brasileira a receber a honraria. A homenagem póstuma ocorreu nesta terça-feira (4).

A medalha leva o nome do sociólogo, historiador e ativista americano W.E.B. Du Bois, considerado o mais importante líder negro dos protestos nos Estados Unidos durante a primeira metade do século XX.

Marielle, nascida e criada no Complexo da Maré, transformou dor em voz e se tornou símbolo da luta contra o racismo, o sexismo e a violência de Estado.

O diretor-fundador do Instituto de Pesquisas Afrolatino-Americanas de Harvard (ALARI), Alejandro de la Fuente, lembrou que ela havia sido convidada para um simpósio na universidade pouco antes de ser morta:

“Foi porque mulheres como ela desafiaram e transformaram as estruturas de poder, enfrentando o racismo, o sexismo e a LGBTQIA+fobia, que sua preciosa vida foi tirada.”

E concluiu:

“Seus assassinos fracassaram. Marielle esteve conosco no ALARI — e nunca mais saiu daqui.”


2 – Bem-vindo, novembro!

Novembro promete fortes emoções para a camarilha bolsonarista. O mês começa com o prenúncio de uma data significativa: 14 de novembro. Nesse dia, a Primeira Turma do STF dará início ao julgamento da denúncia em que a Procuradoria-Geral da República (PGR) acusa o “Little Banana”, Eduardo Bolsonaro, do crime de coação contra autoridades envolvidas na investigação da trama golpista.

Tudo indica que a denúncia será convertida em ação penal — e o deputado, autoexilado nos Estados Unidos, passará a ostentar o status de réu. Quanta perseguição!

Coincidência (ou carma) das boas: no mesmo dia 14 termina também — no plenário virtual da Primeira Turma — o julgamento do recurso da defesa de Jair Bolsonaro contra a condenação a 27 anos e três meses de prisão. O recurso será rejeitado, obviamente.

Assim, o “Capeta das Profundas”, em prisão domiciliar há três meses, ficará a um passo do regime fechado — com provável escala pela Papuda, antes da análise de um previsível pedido de “reclusão domiciliar humanitária”.

E, para completar o enredo, logo nos primeiros dias do mês, a Universidade de Harvard homenageou Marielle Franco, como citado acima. Ou seja: não faltarão motivos para alguns bolsonaristas tentarem arrancar a cueca (ou a calcinha) pela cabeça.

Na próxima sexta volto com novidades — e, espero, com ótimos motivos pra tomar umas geladas.


3 – Essa notícia vai mudar sua vida

Carnaval 2026: Rainha de bateria faz harmonização no bumbum
Ou: A volta da que não foi (porque eu nem sabia que existia).

Confesso que precisei dar um Google para descobrir “quem diabos” é Luciana Picorelli.
A moça, ao que tudo indica, já foi repórter do inesquecível Wagner Montes e integrou o lendário Zorra Total — o que talvez explique meu apagão de memória seletiva.

Pois bem: depois de 14 — olha o 14 aí de novo! Vou jogar no bicho! — anos longe da folia, Luciana voltará ao Carnaval 2026 como rainha de bateria da União do Parque Acari (hein?!). E, claro, como manda o figurino das musas da Sapucaí, começou os preparativos pelo essencial: o bumbum.

A reportagem, num tom quase científico, detalha o processo com a precisão de um manual de montagem: foram aplicados 40 ml de ácido hialurônico em cada glúteo, com resultado “imediato e sem tempo de recuperação”. Luciana saiu da clínica “se sentindo uma verdadeira panicat” — e, para garantir, colocou o bumbum no seguro.

Sim, é isso mesmo.

Enquanto uns lutam para renegociar o cartão de crédito, outros aplicam ácido hialurônico e saem da clínica prontos para o desfile da vida.

Mas confesso: há algo de transformador nisso tudo.

Se até o bumbum da Luciana Picorelli pode renascer das cinzas do anonimato televisivo, talvez ainda haja esperança para o Brasil.

No fim das contas, o país segue entre harmonizações de glúteo e desarmonizações institucionais.


4 – O “Capeta das Profundas” e o atestado preventivo

A defesa de Jair Bolsonaro já prepara o terreno para o caso de o “minto” ter de trocar o aconchego familiar pelo presídio da Papuda. Segundo O Globo, os advogados juntaram uma pilha de laudos médicos — uma espécie de vale-enfermaria antecipado — para tentar evitar que o ex-presidente cumpra os 27 anos e três meses de pena no sistema prisional do DF.

E é coisa que nem presta! A equipe, formada por cirurgião-geral, clínico-geral e dermatologista, prepara uma cronologia das mazelas do ex-presidente desde 2018: câncer de pele, refluxo, soluço, vômito, hipertensão e apneia — além das complicações de múltiplas operações abdominais, a sétima delas realizada este ano, em Brasília, para desobstrução intestinal e reconstrução da parede abdominal.

Curioso é que esse extenso prontuário médico nunca o impediu de participar de motociatas, carreatas, lanchaciatas, jetskiatas, caminhãociatas, equinociatas, ou algo que o valha, quando era presidente.

Enquanto o STF analisa os recursos do processo, nos bastidores as autoridades do DF correm para avisar que o “Capeta” talvez não se adapte à rotina da Papuda — afinal, ali ele não poderá fazer live, nem escolher o cardápio da tropa.


5 – Essa “famiglia” não me deixa quieto

Estava eu encerrando os trabalhos da semana, quando me deparo com mais essa presepada do “Little BananaEduardo Bolsonaro: o rapaz voou até Washington para tomar um café com Viktor Orbán, o guru autoritário da extrema-direita.

Entre elogios ao “faca na caveira” húngaro e relatos da agonia do papai condenado, Eduardo ouviu que “as portas da Hungria estão sempre abertas”. Tradução: se a Papuda apertar, Budapeste tem vaga.

E pensar que o turismo diplomático da famiglia tinha acabado com a constrangedora “hospedagem” do “Capeta das Profundas”, em pleno Carnaval — entre 12 a 14 de fevereiro de 2024 — na embaixada húngara…

Ledo engano: o “Little Banana” segue firme no plano Fuga 2: Missão Papuda.


Curtinhas

• Dados do Censo 2022 revelam que o Brasil tem 8.149 pessoas chamadas Natal — mas nenhuma delas mora em Natal. Em compensação, existem 101 com o sobrenome Mossoró, mas nem a IA consegue descobrir onde elas vivem. Deveras curioso! Ou não?

Corinthians pede para Memphis deixar hotel que custa R$ 250 mil por mês. Oxente! Para quem já deve R$ 3 bilhões, o que são R$ 250 mil mensais a mais? Besteira da “mulesta”! Deixem o rapaz quieto no cantinho dele!

Caicó, na Região Seridó do RN, foi uma das três cidades mais quentes do Brasil nesta terça (4), com 39,8°C. Ficou atrás apenas de Ibotirama (BA) e Picos (PI), ambos com 39,9°C. Né brinquedo não! A quentura tá de rachar o quengo e cozinhar os miolos.

• Da série “Só tem filé” — o prefeito de Sorocaba (SP), Rodrigo Manga (Republicanos), o “prefeito tiktoker”, foi afastado do cargo por suspeita de corrupção na saúde. Mais um da turma do “Deus, pátria e família”.


No fim das contas, os “meninos” do sonho eterno nos ensinam que ainda vale a pena cantar, mesmo quando o mundo desafina. Porque, enquanto houver quem sonhe, haverá música para nos aliviar.

E homenagens justas aos que combatem — ou combateram — as injustiças sociais ajudam a suavizar um pouco nossa indignação diante das mazelas patrocinadas por “famiglias” de privilegiados que governam em causa própria.

“Apesar de vocês” — e de tudo — não custa lembrar que sempre haverá uma sexta-feira a nos lembrar que a vida pode ser leve. Perdoem a redundância e até a próxima!
Fui!

Escrito por Marco Túlio

Um Congresso que nunca decepciona na arte de decepcionar

O autor e a criatura