Saiu da casa confuso, mal consegue ficar de pé. Passa a mão na testa, sem saber muito o que fazer, tampouco o que aconteceu para estar ali. Volta o olhar e naquela posição próximo da saída constata o local ermo e abandonado. A entrada é daquelas divididas em duas partes — todo nordestino reconhece esse tipo de acesso, que fica suspenso por gonzos. Um janelão aberto na lateral da sala cintila um tom amarelado no teto produzido por uma lamparina, acentuando o brilho do reboco branco, esburacado, deixando à mostra tijolos consumidos pelo tempo.
Fica intrigado pela falta de mobília, enfeites, algo que remeta aos moradores. O piso da sala é de areia batida, incrivelmente alva, com alguns riscos, o que faz deduzir que tais marcas foram feitas por uma cadeira ou mesa arrastada.
Continua zonzo, mas já consegue caminhar sem apoiar-se; ainda não compreende o porquê de estar ali ou sobre sua chegada. O incrível é que está à beira de um lago e vê a água cristalina descer nas pedras à sua frente em um incrível cenário branco. Não há árvores em volta, nem pássaros, ou bichos, sons, brilho do Sol, vento soprando. Nada. É um local sem vida, está morto. Ainda assim, o branco do nada transmite-lhe tranquilidade. Causa-lhe incômodo a quietude das folhas, a ausência da folhagem amarelada pelo chão; não ver um galo-de-campina pousando no ninho, alimentando o filhote. Sem a trilha de formigas, lagartos em busca de comida, pebas, preás, borboletas, vida…
Entre as águas surge uma imagem bem ao longe. Na imensidão daquele branco, quando se dá conta, passa a rir e chorar, simultaneamente.
— Mãe?
— Sim. Você está bem?
— Estou com saudades. A senhora tem vivido aqui? Como é “viver” assim? Não sei ainda o porquê de estar aqui. — Muitas perguntas lhe ocorreram em uma fração de segundo.
Ela responde-lhe com um grande sorriso e a serenidade que o faz sentir-se criança, de sua primeira lembrança daquele olhar.
—Preste atenção nos sinais. Preste atenção! — disse-lhe e saiu.
— Quais sinais? — perguntou sem obter resposta.
Imagina que talvez ela quisesse mostrar um caminho traçando aqueles riscos no chão na pequena sala da casa. Mas qual a direção?
— Você sempre me mostrou o caminho mais calmo. Obrigado, mãe. Deus a tenha em Bom Lugar — faz um sinal da cruz e agradece.
Há uma confusão mental, enquanto um amontoado de pessoas fica à sua volta, balbuciando. Tem a cabeça erguida levemente por uma espécie de bornal e, quase inaudível, ouve uma voz estranha insistente, chamando-lhe a atenção:
— Oi! Acorde. Tudo bem? Olha a minha mão. Quantos dedos você está vendo aqui? Consegue me entender?
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