Há uma ventania vindo de fora, ruídos nas portas e as janelas batendo para dentro e para fora, há um cheiro estranho no ar…
Os quartos estão revirados, a caneta fora do tinteiro e nenhum bilhete preso no ímã da geladeira.
O bule apitando na cozinha, avisando que o café está pronto, três xícaras postas na mesa e grandes rabiscos de sangue nas paredes…
Adeus… Adeus… Adeus…
A ventania agora está muito forte, um assovio estranho no quarto de hóspedes e a torneira do banheiro está aberta, a água neste momento desce as escadas.
Os lustres quase caídos, as lâmpadas piscando, piscando.
A casa parece assombrada…
O cachorro se soltou da corrente, agora o canil está vazio, a grama lá fora está alta e começa neste instante chover, uma chuva fina, constante, agora todas as testemunhas entraram, o quarteirão está vazio, ninguém nas calçadas, só a chuva fina caindo no telhado.
Ao som de Ravel, vindo do hall, caminho até o sótão, o corredor escuro, dava para sentir as teias das aranhas, o cheiro de algo estranho está no ar… De sangue das paredes, cheio de tédio, de vazio.
Passo pelas escadas, cada degrau um tormento, outro degrau um suspense, mais um o susto, outro degrau o medo, cheguei até o sótão e meu corpo está pendurado numa corda.
Não! Não! Não!
Um corpo jovem e sadio, um corpo que caminhava pelo jardim todas as manhãs, as curvas bem traçadas, um cabelo bem cuidado, as marcas do tempo de criança…
As mãos ofereceram o ódio e seu pescoço errante aceitou a ideia de brincar de morte…
Como aconteceu não lembro, eu aguardava minhas amigas melancolia e solidão…
A chuva cessou, a vizinha bate na porta, veio trazer o totó que tinha fugido do jardim…