O filósofo Friederich Nietzshe disse que sem música a vida seria um erro e a música é companheira, alento e terapia para muita gente.
Mas como a música chega até nós?
Imagine-se um tempo em que não havia tecnologia para o armazenamento! Assistia-se a um concerto, a uma exibição pública ou privada e o local do armazenamento do som era exclusivamente a memória.
Em 1877 o gênio Thomas Edison inventou o cilindro fonográfico e o fonógrafo, a primeira forma de armazenar e reproduzir os sons da música. Muitas outras mídias vieram depois com a evolução da tecnologia, os discos planos de cera e vinil, as fitas magnéticas, os cds.
Em outubro de 2004, eu estreei nas páginas da revista PAPANGU com um artigo com o título PARA ONDE VAI A INDÚSTRIA FONOGRÁFICA, àquela época tendo como principal produto o cd e assolada pela pirataria.
O tempo passou e, ao reler o artigo, tem-se a impressão de que tudo vem virando poeira com o avanço da tecnologia. A própria PAPANGU no papel já não existe.
Naquele tempo já existia o comércio de downloads, a coisa foi evoluindo e o armazenamento e a forma de difusão da música é hoje quase que exclusivamente digital, com o streaming, a distribuição digital sem a necessidade de downloads. Fora isso, somente as velhas emissoras de rádio, com a programação quase igual, de má qualidade e sem novidades.
Um simples smartphone na mão de um cidadão substitui o velho radinho de pilha e o toca-discos, com a diferença de que se escolhe o que quer ouvir, onde estiver, algumas com pagamento de assinatura e outras sem pagar absolutamente nada. Plataformas digitais como Spotify armazenam milhões de gravações de todas as épocas, de todos os lugares, de todos os gêneros.
O cd virou um fetiche, um artigo para colecionador e a indústria fonográfica que inclui não apenas os artistas mas uma infinidade de técnicos, tenta se reinventar para não sucumbir, inclusive com a volta dos velhos discos de vinil.
E a vida para novos artistas, como é que fica? Sem o esquema de divulgação das gravadoras, sem a difusão na televisão e no rádio, com o encolhimento da crítica especializada, cada vez mais difícil.
Em todos os lugares, do Oiapoque ao Chuí, temos gente produzindo música da melhor qualidade mas seu reconhecimento fica restrito a um nicho, uma região onde tem a oportunidade de mostrar seu trabalho. E quando os grandes nomes de nossa MPB quase todos na casa dos 70 anos desaparecerem, quem vai substituí-los? Nunca mais teremos um “cantor das multidões” como Orlando Silva, nem um “rei” como Roberto Carlos.
A propósito, vocês conhecem Ninah Jo, Toni Ferreira, Ayrton Montarroyos, Ze Manoel? São novos com trabalhos que valem a pena se conhecer.
Enquanto isso, o veterano Matheus Aleluia, com 76 anos, continua produzindo pérolas com sua voz metálica de deus negro e o baiano Antonio Carlos Tatau produz seu primeiro e excelente disco aos 61 anos de idade. Não deixem de ouvir!
DAMIÃO NOBRE é médico e escritor