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É preciso cantar

Outro dia procurando a rádio Universitária da UFRN, aqui de Natal/RN, onde ainda podemos ouvir música — a meu valor — de boa qualidade, quando o celular toca e como nossa cobertura é falha, tive que me afastar para procurar um ponto de sinal mais forte para que pudesse falar. Por acidente o dial parou numa rádio que, para meu azar, embora afastado do aparelho de som conseguia ouvia o que estava tocando, por graça dos divinos deuses dos acordes, das melodias e dos poetas, foram apenas três horripilantes e nauseantes músicas, as quais ao final o locutor anunciou entusiasticamente: “Vocês ouvintes da rádio FM – disse um número – tiveram o privilégio de ouvir o fenômeno Jojô Todynho, Pablo Vittar e a deusa da nossa música popular brasileira, Anitaaaaa”.

Com um “farnezinho roendo meu juízo” já não dizia coisa com coisa, juro por nossa senhora da boa música, me peguei chamando Jesus de Genésio, talvez, percebendo minha aflição e por solidariedade cristã meu interlocutor decretou que depois ligava, frase a qual é minha única memória da conversa. Foram os minutos mais longos de minha vida de pura tortura psicológica. Por fim, corri ao dial para me desvencilhar daquela “coisa” — com toda vênia de quem gosta – imediatamente, como balsamo, os meus doridos tímpanos foram acalentados com Caetano cantando Geleia Geral. 

Zé Ramalho em sua música Sinais, versa: “Sinais de que os tempos passaram, passaram e mudaram demais, Sinais de que tudo mudaram, viraram para frente e pra trás…” como tudo na vida, tudo muda o tempo todo. Entretanto, não precisava mudar tanto assim, né não? Que mudamos muito, isto é fato, mas nos aparenta que em muitos aspectos mudamos para pior, isto para ser bem generoso. Mudamos na música, política, religião, na forma de nos relacionarmos. Tenho a nítida impressão que emburrecemos: expusemos ou deixamos nossa porção maligna florescer, ficamos mais preconceituosos, mais extremistas, mais intransigentes, mais agressivos, mais perigosos e que não aprendemos nada com o passado recente. Andamos confundindo alhos com bugalhos, até chamar genocida de mito estamos fazendo. Já não se faz músicas como antigamente.

Lembro da minha época de adolescência, lá nos Paredões, em Mossoró/RN, você ligava na Rádio Rural de Mossoró, Rádio Difusora, Rádio Tapuyo ou Libertadora se ouvia Chico Buarque, Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Cartola, Luiz Melodia, Luiz Gonzaga, Gonzaguinha, João do Vale, Terezinha de Jesus, Elino Julião, Pink Floyd, Beatles, Ray Charles, Elvis Presley e tantos cantores e cantoras soltando a voz nas estradas com música de boa qualidade. Neste tempo tive contato — através da música, até porque não tínhamos liberdade de expressão, jornais e revistas publicavam somente o que os sensores permitiam e, portanto, pouco se sabia da situação política do país, a música foi um meio de expor, de forma leve e sutil, as atrocidades que ocorriam no submundo da ditadura militar — com a realidade política brasileira vivida, não que uma vez ou outra aparecia gente cantando “Comprei um quilo de farinha, pra fazer faró fa fa”…Por outro lado Julhinho de Adelaide cantava Jorge Maravilha: “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta…” e Sérgio Sampaio botava o bloco na rua. Ah! Você também podia ouvir o Trio Mossoró cantar “Santo de Barro” do Iramar Leite.

Recordo dos sábados, isto já nos meus vinte e pouco anos, no jornal Gazeta do Oeste, lá pelas 18h se ouvia um “tirinete” dos diabos, vindo da redação, eram os dedos do amigo Kléber Barros — In memorian — castigando a pobre Olivetti furando o papel de pauta escrevendo sua coluna, que logo ao cabo iria “desembestar” rumo aos estúdios da Rural de Mossoró para fazer seu programa no qual recitava poemas de sua lavra e outros dos grandes poetas brasileiros e portugueses. Sem falar que também aos sábados o amigo Aluísio Barros, passava no jornal para entregar seu material do caderno de cultura e, quase sempre, trazia no alforje a coluna de sua Ivonete de Paula, para publicação. Por vezes nos mostrava — a mim e a Maria, a lista ou playlist — como se diz hoje —, das músicas que iriam tocar no seu programa à tarde, na Rádio Gazeta de Areia Branca, e ali estava sempre a navegar Vapor Barato, com Gal Costa.

Me valendo de Zé Ramalho numa versão de Bob Dylan “tá tudo mudando…”, no entanto, é precisa cantar. “Sem a música a vida seria um erro” — Nietzshe.

Coxa

O fato mais relevante da política brasileira do mês de agosto, não foi nada de impeachment do Ministro Alexandre de Moraes, pedido pelo Bufão ou o quebra—quebra que seria promovido no Supremo Tribunal Federal, no dia 7 de setembro, pelo cantor bovino Sérgio Reis e a manada, mas sim, uma foto em que o Lula, abraçado a sua namorada Janja, aparece de sunga expondo as coxas demonstrando sua boa forma física. Ô véi macho!!!

Life is life

Com duas vacinas — devidamente armado de álcool gel e máscara — já ando matando a saúde de filhos e netos. Fui a festinha do Dia dos Avós na escola de Valentina; Já vi de pertinho minha bióloga Larissa Brito e seu Galileu, que vieram à Natal/RN e passaram aqui, para nos darem suas bênçãos e comer um bolinho feito por Maria; Já almocei com Pollyanne/Felipe e Valentina; Já abracei Jade/Roberto e, Lívia já escuta comigo “Life is life” — Opus — nos últimos acordes diz “de novo vovô Bito”, isto das 9h às 18h. 

No entanto, os olhos ainda minam de saudade dos que estão lá pelas terras de Pablo Nerudo: Polary/Sanara e os netos Aléssia e Enzo. Mas, Sanara promete que dezembro é logo ali.

Rastro

Lula passou pelo Rio Grande do Norte e deixou um rastro de esperança.

Frase

“Não sou coveiro”, Presidente da República Federativa do Brasil, senhor Jair Messias Bolsonaro.

Caricatura

Millôr Fernandes, caricatura feita para o XVI Salão Internacional de Humor de Caratinga “Festival Jal & Gual” – 2021.

Charge – Sem maçã

XVII Salão Internacional de Humor de Limeira – 2021.

Escrito por Brito Silva

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