Sobre

Penso, logo…

A famosa frase “Penso, logo existo”, atribuída ao filósofo francês René Descartes, sempre me pareceu uma das maiores bobagens. Afinal, eu existo muito antes de começar a pensar; o correto seria dizer “Existo, logo penso”. Imerso na minha opulenta ignorância, passei anos ignorando essa reflexão.

Até 1979, vivia tranquilamente, surfando nas ondas da minha total alienação. Foi então que, empurrado por forças cósmicas, cheguei ao jornal Gazeta do Oeste. Aí, a “casa caiu”. De repente, fui bombardeado por milhares de informações diárias. Algumas amplamente divulgadas, outras como liberdade, sindicatos, greves, direitos civis e democracia só podiam ser discutidas em pequenos grupos, em bares ou dentro de casa. Quem ousasse abordar esses temas em público, seja com megafones ou não, corria o risco de levar uma surra da polícia ou, pior, ser preso e desaparecer para nunca mais voltar. Essa foi a realidade de muitos que se opuseram ao regime de exceção. Até hoje, carrego a imagem do meu amigo Crispiniano Neto, ensanguentado, estampando a primeira página do Diário de Natal.

Por pura provocação a mim e a muitos outros desmiolados, Canindé Queiroz – em memória – escrevia sua coluna intitulada “Penso, logo…”. Foi ela que me impulsionou a olhar para o “existir” com mais carinho. Ao abrir essa nova janela, senti um misto de angústia e humanidade, uma certa perplexidade. Percebi que apenas “existir” não era suficiente, ora, até uma ameba existe. A frase de Descartes ganhou um novo significado para mim: ela fala sobre a percepção de que, ao pensar, tomamos consciência da nossa existência e do mundo ao nosso redor, que então se transforma, revelando outra dimensão, outra realidade.

Minha filha, Jade Brito, costuma dizer: “A ignorância é uma bênção”. Recentemente, peguei um Uber e o motorista começou a discutir sobre Elon Musk, defendendo-o fervorosamente e acusando o ministro Alexandre de Moraes de ser um ditador. Concordei apenas para evitar atritos, enquanto Gustavo Lima tocava no rádio. Cheguei ao meu destino angustiado por ele.

Com o tempo, entendi que o povo não busca a verdade; prefere se apegar a ilusões, como quem foge da dura e cruel realidade. Um trabalhador anti-sindical, um negro racista, uma mulher machista, um pobre de direita, um CNPJ-MEI acreditando ser um “Faria Limers” isto, certamente, reflete essa desconexão. A eleição de Paulinho Freire, um bolsonarista declarado, é resultado desse fenômeno, onde as pessoas se distanciam da realidade, rezando para pneus e pedindo ajuda a extraterrestres, enquanto atentam contra a democracia. É triste observar aqueles que, até a última chuva, tiveram suas casas tomadas pelas águas de lagoas de captação que transbordam a cada chuvisco, por falta de manutenção, aos berros comemorando a vitória de Paulinho.

Nesses momentos, sinto uma vontade danada, quase irresistível de dizer: “Penso, logo desisto”. No entanto, como disse Joseph de Maistre, “cada povo tem o governo que merece”.

Salão de Humor de Natal
Em uma reunião virtual entre Natal e França, eu, Joe e Brum discutimos uma nova Exposição de Caricaturas, na Biblioteca Câmara Cascudo. Faltam apenas pequenos detalhes. Teremos como convidado o cartunista português António Moreira e faremos uma homenagem a um cartunista potiguar.

Perdedor
Um cientista político, desses que aparecem na bancada mídia levianamente direitista, afirmou que o grande perdedor das eleições foi Lula. Porém, Bolsonaro não conseguiu eleger nenhum de seus ex-ministros candidatos.

Botafogo
Não sei quem ganhou ou quem passou para a final da Libertadores, mas aqueles 5 a 0 nos costados do Peñarol foram inesquecíveis (placar de ontem: Peñarol 3 a 1 Botafogo).


“Estou muito orgulhosa desse processo que a gente construiu.” — Natália Bonavides.

Caricatura


Caricatura do poeta, músico compositor Climério Ferreira.

Escrito por Brito Silva

Déjà vu: Gafanhotos

Diga-me o que relês e te direi quem és