Como cantaria (e canta a cada ano) e pergunta Simone, então é Natal, o que você fez? Sim, posso dizer o que eu fiz: Eu sobrevivi, Simone. A uma pandemia, a um desgoverno tão letal quanto o vírus.
Mas também fiz outras coisas além de sobreviver. Tive de reaprender a viver minha vida entre o ´novo normal` e as restrições, até que os números de casos e óbitos da Covid caíssem. Tive de me readaptar a novas formas de viver.
Fiz mais coisas, Simone. Lancei um livro. Não plantei uma árvore, mais um ano sem fazê-lo. Quanto aos filhos, já crescidos e donos dos próprios narizes, fiz o de sempre: ouvi o que diziam, bati papo com eles, celebrei as conquistas, solidarizei-me com os medos deles.
Também fiz coisas corriqueiras. Fiz tapioca. Na verdade, enfim achei o ponto certo dela. Fiz mudanças na casa e me livrei de coisas velhas, desapego que chama, não é?
Fiz exames. Enfim. De sangue, de vista. O estigmatizado exame de próstata, medo maior e tolo dos homens brasileiros, mais afeitos à masculinidade frágil e tóxica do que à saúde. Por falar em saúde, a minha está ok, felizmente.
Ah, fiz muito mais coisas, Simone. Apaixonei-me, desapaixonei, apaixonei-me de novo, que como versou Maiakovski, comigo a anatomia ficou louca, sou todo coração! Revi velhos amigos, desfiz supostas amizades que não me faziam ou cabiam bem. Reencontrei gente querida que há muito não via. Perdi pessoas queridas vítimas do Coronavírus e de um desgoverno assassino que atrasou a vacinação de propósito.
Fiz listas e apontamentos dos filmes que assisti e livros que li, sempre menos do que gostaria e poderia, mas, enfim, vivemos dentro de nossas possibilidades, que o ócio além de criativo, como diria Domenico de Masi, é sagrado também.
Enfim, Simone, fiz o que pude. Como todo mundo. Passada a régua, que venha 2022 e vamos ver o que pode mais ser feito, individual ou coletivamente.
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