Todos dias eu e Maria calçamos nossos surrados e pisados tênis nos preparando para sairmos no rumo da venta a caminho da praça da Igreja Nossa Senhora da Candelária, quando lá chegando nos dedicamos a olhar aquela ruma de ferros retorcidos harmonicamente nos convidando a sofrer pelo resto do dia e noite a dentro. Só de ver aquele magote de velhotes iguais a mim, me dá uma canseira dos diabos e, assim sendo, nos dirigimos para o banquinho, que já tem a nossa cara, e por lá ficamos até às 17h35, então já recuperados e acabrunhados de ver toda essa gente se martirizando nesse monte de aparelhos, que para alguns desavisados causam até uma boa impressão, mas na verdade são equipamentos requintados para torturas e, pior, são indicados por médicos e fisioterapeutas de boa índole.
Bom! Hora e meia no banco da praça, já se faz, logo seguimos para buscar nossa neta Lívia na escolinha, a qual é a responsável direta por este nosso calvário.
Outro dia, antes do pai levá-la à escola fez uma recomendação: “Vovó Cô vá me buscar mais o vovô Bito e leve Buninha, no carrinho dela”. Ora! quem haveria de não atender uma ordem desta natureza? Só se fosse um avô oco, um desalmado. Na hora de sairmos Maria percebeu a falta de pagamento de um boleto que chegou atrasado – estes malvados que consomem quase toda nossa renda doméstica, nos assombrando religiosamente todo final e início de mês, podem até atrasarem, mas faltar? Nunca – sugeriu irmos pela casa lotérica e lá fomos nós: ela com a boneca e eu levando o carrinho de Bruninha. Todas pessoas que passavam olhava de um jeito diferente: Umas riam, outras balançavam a cabeça – talvez, imaginando de qual hospício saíram estes dois velhinhos doidos.
Maria entrou na lotérica, não antes de pôr a boneca no carrinho, me encarregar de “falenelinha”, alguns minutos depois uma senhora saindo do prédio passou por mim, não se conteve “que fofinha” deu uma risada e danou-se apressada dobrando a esquina.
Boleto pago, seguimos à praça ao nosso observatório. O carrinho de Bruninha é um rosa-pink com detalhes verdes delata pupila, mesmo se você tiver miopia em alto grau, ainda assim, certamente, iria enxergar pelo menos a uns mil metros de distância. Os carros passavam sorridentes, transeuntes nos miravam intrigados com a cena de dois sexagenários sentados num banco de praça com uma boneca e seu carrinho, além do mais, uma vez ou outra Maria trocava algumas palavras com a boneca. O certo, é que pontualmente pegamos Lívia na escola e ela satisfeita com sua Bruninha, a caminho de casa dava alguns conselhos à boneca: “Olhe aqui filhinha, não pode pular no sofá, a vovó Cô biga, entendeu Buninha?”.
Sem netos seríamos apenas velhos troncos de árvores ressequidos pelo tempo implacável incapazes florescer na primavera. Creio que os netos são o que melhor pude ter nessa passageira vida. Ah! João Miguel chegou e já tomou conta da casa.
Perguntar não ofende
Perguntar não ofende. Aliás, pode até ofender alguns biltres de visão vesga que acreditam na justiça na justa medida que lhe convém.
Mas, pergunto: e se fosse Lula ou Dilma que tivesse afrontado o Supremo Tribunal Federal concedendo indulto a um aliado, o que aconteceria?
Mestra
Larissa Brito, deixou a “Cidade do Sal” para fazer seu mestrado nos bancos da UFRN, aqui na “Cidade do Sol”. Seja bem-vinda filha minha, que sua jornada seja leve.
João Chegou
João Miguel, meu mais novo neto chegou, nesse dia 24 de abril, para reclamar seu lugar no clã. Foi chegando, se abancando e junto com os outros tomaram o poder, como água encheram cada canto da casa. Segundo uma vizinha até o telhado daqui anda sorrindo.

Caricatura
A caricatura de Aldir Blanc para participar do 4° SOH – Salão Online de Humor de Pindamonhangaba/SP.