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O senador valentão

”Matou a família e foi ao cinema” é um famoso filme brasileiro de 1969. A lembrança veio com a imagem do senador Styvenson Valentim passeando com a namorada nesse domingo, 28, em plena campanha eleitoral. Nessa comédia da vida real, o título bem que podia ser “Candidatou-se ao governo do Estado e foi ao shopping” ou “Entrei para a política e não sei o que fazer”. Bom, não sabe o que fazer além de “causar”, neah?

O valentão alçado à fama por prender motoristas bêbados, surfou na antipolítica que dominou as eleições de 2018 e representa o RN no Senado Federal. Biscoiteiro nato, o dublê de político adora provocar celeumas e lacrar com seu linguajar chulo.

Considerado explosivo, agressivo e desmerecedor de confiança no meio político, o senador consolidou a imagem de arrogante e grosso até no trato pessoal, se utilizando comumente de palavrões para se fazer entender.

“Ah, mas isso já é perseguição”, podem dizer alguns. Será? Ou estamos tão enfiados nas trevas que já foi normalizado que uma figura pública, uma autoridade, senador da República saia por aí proferindo “foda-se” em entrevistas. Porque foi exatamente assim que ele falou ao se referir ao prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra, ao cobrar transparência sobre os recursos por ele destinado em emenda ao município oestano.

Em um podcast, Styvenson disse que não mandaria mais recursos para Mossoró porque o prefeito não havia disponibilizado os nomes das pessoas atendidas por emenda sua para a realização de cirurgias. “Dor de barriga não dá só uma vez não. Eu ainda tenho quatro anos lá. Vamos ver se ele tem coragem de ir lá. Sem prestar conta, não perca seu tempo, prefeito, de ir lá em Brasília não. Passe para outro gabinete. Não vou mandar dinheiro e vou dizer porque não mando para a cidade. ‘Ah, mas então eu não dou apoio’. Foda-se com o seu apoio. Não estou nem aí para ele. Nunca cobrei emenda por apoio”, vomitou o parlamentar.

O prefeito de Mossoró devolveu no mesmo tom, mas sem o uso de palavras chulas: “Senador mentiroso, arrogante e mal informado”. Allyson Bezerra disse que as informações requeridas já haviam sido enviadas desde abril.

Nem um pouco feliz com a resposta do alcaide mossorense, o senador valentão entrou com uma representação criminal contra o prefeito por injúria e difamação.

Enquanto coices são trocados pelas redes sociais e podcasts, o candidato ao governo faz sua anti-campanha postando fotos deitado no colinho da mamãe, trocando carinhos com sua cachorrinha e fazendo lives.

Depois de fazer charminho durante a pré-campanha se seria ou não candidato ao governo do RN – “vocês tinham dúvida?” -, o segundo colocado nas pesquisas confirmou a candidatura no último dia para isso, abriu mão do tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão e já declarou por aí que vai seguir sem pedir votos ou promover grandes mobilizações e sem usar dinheiro do fundo eleitoral.

Além de divulgar algumas ideias para seu suposto governo, como o de instituir exame toxicológico obrigatório para os servidores – “SÓ É CONTRA ISSO OS NOIAS” -, o filhinho da mamãe, como faz questão de ser mostrar, trava uma briga na Justiça para não aumentar a pensão que paga ao filho menor de idade e ameaça processar quem divulga algo sobre o assunto.

Pródigo em cobrar transparência e lisuras alheias, o candidato do Podemos deixa de ser estilingue e vira telhado de vidro com sua própria candidatura, já que sua vice, Francisca Henrique, é ré na Justiça por improbidade administrativa por atos da época em que era secretária de Educação de Parnamirim.

Em entrevista a uma emissora de rádio local, Styvenson afirmou que já sabia da ação antes de indicar Francisca como sua companheira de chapa. “Eu sabia de tudo. É improbidade”. Mas, como ainda não foi condenada, candidatura que segue. “Quantos agora devem estar cheios de processo no rabo e ninguém diz nada?”, indaga em mavioso vocabulário.

Na mesma entrevista, o nosso “mamãe deixou” também comenta sobre a situação de seu suplente, Alisson Taveira, que foi preso pela Polícia Rodoviária Federal durante uma blitz por não pagamento de pensão alimentícia. “Não tenho experiência política. Confirmo. Não tenho. Minha vice tem processo, meu suplente não vale o que o gato enterra”.

É, esse aí, engole quem quer.

Papangu na Rede | Versão Flip | Agosto/2022

Culpa — Capítulo II