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O QUE E QUEM É O MERCADO

O mercado é volátil e volúvel. O mercado é sensível, sugestionável, melindroso, suscetível, vulnerável, impressionável, magoável… Será que é isso mesmo?

Não! Não é nada disso. Esses adjetivos são muito prosaicos para definir como opera de modo quase imperceptível, essa entidade etérea, escorchante e maligna que paira soberana sobre nossas cabeças e que está sempre especulando moldar ações governamentais que reflitam os seus interesses espúrios.

O mercado é um bicho escroto gerado nas entranhas fétidas do capitalismo nefasto, que busca incessantemente o lucro extorsivo, o acúmulo de capitais, a exploração econômica do proletariado e a degradação do meio ambiente.  

O mercado é chantagista, usurpador, imoral, inescrupuloso. É arrogante, cínico, desumano, genocida e sem vergonha. O mercado é o pai das reformas trabalhista e da previdência, que sempre visaram espoliar direitos adquiridos dos trabalhadores e aposentados.

O mercado age e reage ao seu bel-prazer. O mercado reagiu negativamente quando o presidente Lula propôs e conseguiu aprovar um “furo” no teto de gastos do governo, com o intuito de cumprir metas e programas sociais.

No dia 02/01, Fernando Haddad tomou posse como Ministro da Fazenda e como resultado imediato do mercado, o Ibovespa caiu 3,06%, o dólar subiu 1,51%, o euro 1,37% e as ações da Petrobras tiveram uma queda de 6,67%. O receio está relacionado ao risco fiscal do país e de intervenções muito bruscas na economia, afirmam os especialistas. Vão se “reiar” o mercado e seus especialistas.

 O mercado também foi ágil e diligente ao repercutir negativamente a fala do presidente Lula na Argentina (24/01), quando ele anunciou a ajuda do BNDES para financiar a construção de um gasoduto argentino.

O mercado reagiu com indiferença quando terroristas bolsonaristas invadiram a Praça dos Três Poderes clamando por um golpe de estado e promoveram a maior depredação e destruição de bens e imóveis públicos da história.

O mercado também se mostra indiferente ao genocídio na reserva yanomami em Roraima. Isso é deplorável, infame, mesquinho. Nenhum manifesto solidário, nenhum ato de indignação, nenhuma ação humanitária partiu dos senhores do mercado.

Enquanto os povos indígenas yanomamis morrem doentes e desnutridos vítimas das políticas genocidas do genocida fugitivo, o Valor Econômico (Grupo Globo) informa que “o mercado aguarda também a reabertura dos mercados da China e Hong Kong, que seguem paralisados devido ao feriado de Ano Novo Lunar”.  

E quem é o mercado? Qual é a cara do “deus” mercado, aquele que tudo quer e acha que tudo pode? A imagem que melhor simboliza a “cara” atual do mercado é a que ilustra esse texto. Trata-se da capa do livro “Sonho Grande (2015)” de autoria da jornalista Cristiane Correa, no qual ela narra a trajetória vitoriosa dos sorridentes e triunfantes empresários Carlos Alberto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Hermann Telles. Os três estão entre os quatro homens mais ricos do Brasil (4º, 1º e 3º pela ordem). Quem estiver interessado em mais detalhes, acesse a lista da Revista Forbes.

Em 2012, outro ícone do mercado financeiro brasileiro entrava para a famosa lista e para a história do empreendedorismo nacional: Eike Batista. Lembram dele? Ostentando uma fortuna de US$ 30 bilhões (TRINTA BILHÕES DE DÓLARES!), o jovem empresário figurou como o sétimo homem mais rico do MUNDO! É mole?! Que orgulho, brasileiros e brasileiras! À época, o bilionário em dólares declarou: “É uma honra representar o país mais uma vez no ranking da Forbes. Contente por investir, gerar riquezas e empregos no país”. Que lindo esse mercado meritocrático! Se vocês quiserem saber mais detalhes sobre como acabou essa sórdida e escabrosa história de “sucesso”, pesquisem no Google. Eike Batista também já foi a “cara” do mercado.

Mas voltemos aos radiantes e bilionários “setentões” (Sicupira e Telles) e ao “oitentão” (Lemann). São eles, os responsáveis por uma fraude fiscal e contábil de mais de R$ 40 bilhões envolvendo as Lojas Americanas, uma das várias empresas das quais são controladores.

Os ídolos do jornalismo econômico brasileiro, heróis do capitalismo tupiniquim e personagens de livros, reportagens e documentários apologéticos, agora devem enfrentar uma onda de processos judiciais, tanto de acionistas e instituições financeiras lesadas, como do Ministério Público.

E como reagiu o mercado ao escândalo das Lojas Americanas? Ora bolas! Com a naturalidade que lhe é peculiar, quando a turbulência envolve parceiros de longas datas.

Assim declarou Luiz Carlos Trabuco, presidente do Conselho de Administração do Bradesco, em entrevista (16/01) à correspondente internacional de economia da CNN, Priscila Yasbek, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça: “O escândalo contábil das Americanas, que hoje reporta dívida de R$ 40 bilhões, foi imprevisto para o mercado e de efeitos muito desagradáveis. O mercado está dialogando. O bom senso é uma régua fundamental para que possamos superar isso e chegar a um acordo que não gere ainda mais prejuízo”. Não é nada, não é nada, não é nada mesmo. Perceberam ou precisa desenhar? Está tudo tranquilo com o mercado em relação a esse assunto.

Daqui a algumas semanas esse embaraçoso deslize engendrado involuntariamente (é o que eles juram de pés juntos) pelo trio parada dura (Lemann, Telles e Sicupira) e que chegou a melindrar apenas “levemente” os senhores do mercado, será esquecido e a pilhagem capitalista seguirá o seu curso normal.

Pelo visto e pelo dito, o único imprevisto capaz de atrapalhar a normalidade do mercado é o retorno de Lula presidente, com essa sua política econômica “socialista” e inclusiva.

Uma política econômica “comunista” que tem o desplante de buscar garantir que cada brasileiro tenha direito a café da manhã, almoço e janta diários; de lutar com todas as forças, mais uma vez, para riscar o nome do Brasil do mapa da fome; de tentar com unhas e dentes devolver ao povo brasileiro o direito ao estudo e a um trabalho digno.

Uma política econômica que prioriza os mais pobres, excluídos, desassistidos e vítimas de preconceitos, independente do estrebuchar apoplético do mercado.

Escrito por Marco Túlio

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