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NÃO FOI ASSIM

O jornalista paraense Ruy Godinho publicou quatro volumes da série ENTÃO, FOI ASSIM? livros onde compositores relatam, em entrevistas com o autor, como foram compostas algumas das mais conhecidas de nossas canções, desfazendo muitas versões falsas, algumas delas circulando na Internet.

Na edição anterior da PAPANGU, me reportei a fakes, falsas notícias veiculadas nas redes sociais e, se retorno ao tema, é porque este assunto é bem interessante.

São famosos os versos de Fernando Pessoa “o poeta é um fingidor, finge tão completamente que às vezes finge que é dor a dor que deveras sente”. É sempre bom ter em mente o poder da criação e não interpretar de forma simplista a obra para não cair em armadilhas. Nem sempre a canção é baseada em um fato, muitas vezes é baseada em uma só palavra, em uma rima, em um sonho, em uma suposição.

Irei me reportar a dois grandes sucessos de décadas que ainda tocam hoje em dia, um na voz de Tim Maia e outro de Djavan, embora existam outras gravações, todas duas com histórias que circulam nas redes sociais, ambas de conteúdo mórbido.

A primeira das canções é GOSTAVA TANTO DE VOCÊ, composição de Edson Trindade, cuja primeira gravação foi de Tim Maia, no ano de 1973. Circula na Internet uma versão de que a canção teria sido composta por Tim Maia ou por Edson Trindade para homenagear uma filha que teria falecido em tenra idade. A composição é de Edson Trindade, músico já falecido, que tocou com Erasmo Carlos no grupo Snakes, no final da década de 1950 e com Tim Maia. Segundo Erasmo, em sua biografia MINHA FAMA DE MAU, quando relata que foi exatamente Edson Trindade quem o levou para a música, a música poderia ter sido composta por Edson em virtude de uma briga com a namorada, com quem viria a casar depois. Há versões circulando na Internet falando em depoimento da própria viúva de Edson confirmando a versão de Erasmo mas nada de 100% concreto. O certo é que não há confirmação dessa suposta filha de Edson que teria morrido precocemente e muito provavelmente foi apenas um desabafo depois de uma simples briga de namorados.

Parece, no entanto que a morbidez toma conta das interpretações da feitura das canções, tanto que o compositor Paulinho Pedra Azul já teve que desmentir várias vezes que não existiu uma noiva que ele perdeu e para quem teria composto sua mais famosa canção, JARDIM DE FANTASIA. Essa história circulava já antes do advento das redes sociais.

Outra versão mórbida e fantasiosa que também circula na Internet, essa já desmentida pelo autor, é a de FLOR DE LIS, um grande sucesso de Djavan, incluído em seu primeiro disco, datado de 1976, que por conta dos versos finais “do pé que brotou Maria nem margarida nasceu”, ganhou também uma versão mórbida e fantástica.

Como circula na Internet, a canção teria sido composta pelo artista alagoano para uma namorada que teria morrido em consequência de um aborto. Já vi Djavan desmentindo e ficando arrepiado ao comentar essa história, mas a verdade é que tem gente para imaginá-las e colocar na Internet para despertar sentimentos.

Tem ainda uma outra história envolvendo O MUNDO É UM MOINHO, clássico de Cartola,  e considerada uma das mais belas canções da nossa música popular. Mas isso já é outra história e deve merecer uma outra crônica. Até a vista!

Escrito por Damião Nobre

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