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HISTÓRIAS VERÍDICAS DE FUTEBOL

Que decepção!!!

Certa vez, aí por volta de 1974, 75, quando ainda morava em Martins, fui passar uns dias de férias em Mossoró e fiquei hospedado na casa do meu tio Flávio Costa, vascaíno roxo e chato de doer. Eu tinha uns 13 ou 14 anos.

            Um final de tarde, quando ele ia chegando do trabalho me falou: “Aí Túlio, mas tarde nós vamos pro futebol”. Eu fiquei tão animado e ansioso que nem perguntei quem iria jogar.

            Bem antes das nove horas, que habitualmente era o horário dos jogos noturnos naquela época, eu já estava pronto para a noitada. Foi chegando a hora do jogo e o meu tio nem se mexia. Eu, com vergonha de perguntar alguma coisa, imaginava que a gente perderia o começo da partida ou não iríamos mais. Afinal o estádio Nogueirão ficava um pouco distante da nossa casa, localizada no início do Alto da Conceição, próxima à linha do trem.

            Quando faltavam uns dez minutos para as nove, tio Flávio se levantou da cadeira, pegou o rádio Transglobe Philco 9 faixas (o top dos tops dos rádios) recém adquirido em 12 suaves prestações, se despediu de Tia Lenira, e falou: “V´ambora Túlio”. Eu saí e fiquei na calçada esperando que ele tirasse a lambreta, o seu meio de transporte na época e que era guardada num “bequinho” ao lado da casa.

            Que nada. Ele me pegou pelo braço e falou: “Vamos indo rapaz”.

            E saímos andando em direção a linha do trem. E eu sem entender nada.

            Atravessamos a linha do trem e seguimos rumo ao Bairro Boa Vista até chegarmos a uma casa com uma calçada bem alta e que parecia abandonada, pois estava com as portas fechadas e não percebíamos movimento algum no seu interior. Quando lá chegamos, já estavam nessa calçada uns dez caras, amigos do meu tio e que pelo modo como se saudaram, também deviam ser vascaínos. Todo mundo se cumprimentou, colocaram o rádio no meio da calçada e ficamos lá, sentados naquela calçada alta, ouvindo o jogo que estava sendo transmitido. Pasmem! Flamengo e Olaria. Aí foi que eu fiquei sem entender nada mesmo. Como é que se reúne um bando de vascaínos em cima de uma calçada, para ouvir um jogo do Flamengo?

            A essa altura, visivelmente decepcionado, eu já havia percebido para qual futebol tio Flávio havia prometido me levar.

            E pra completar a decepção, o Flamengo perdeu de 2 a 1.

            Na volta, ainda tendo que aguentar as gozações daquele vascaíno enjoado, eu perguntei: “Tio, por que é que a gente teve que ir parar naquela calçada para ouvir um jogo pelo rádio?”. E ele respondeu: “É porque é naquela calçada que se sintoniza melhor a Rádio Globo em Mossoró”. Ainda insisti: “E por que um bando de vascaíno se reúne numa quarta-feira à noite pra ouvir jogo do Flamengo?”. E ele: “Já é combinado. Toda quarta a gente se reúne naquela calçada pra ouvir qualquer jogo que a Globo transmitir. É pra aproveitar o rádio novo”.

            Durma-se com uma dessas!!!

A cabeleireira e o futebol

Houve uma época, final dos anos 1990 e início dos 2000, quando saí de Mossoró para vir morar em Natal, que em qualquer jogo do Flamengo com transmissão na TV (ainda não havia essa “ruma” de canais esportivos pagos), a turma se reunia lá em casa, no conjunto Mirassol, para assistir.

            Podia ser qualquer jogo (Copa do Brasil, Brasileirão, Carioca, Libertadores, Copa dos Campeões, Mercosul, etc.) e em qualquer dia ou horário, estávamos lá acompanhados de muita cerveja gelada e do tradicional churrasco para torcer pelo Mengão.

            A “zuada” era grande durante o jogo e muito maior depois, quando começavam as acaloradas discussões entre os assistentes já tradicionais: eu, Túlio Filho, meus irmãos Caio e Deppe e os primos Gildo, Caio César e Neto Falcão. Esse o mais exaltado e mais barulhento de todos. Quando o Flamengo perdia, então…

            Um certo dia, minha esposa Maria José foi com Túlio Filho a uma cabeleireira, cujo salão ficava em uma casa na rua por trás da nossa.

            Túlio Filho lá cortando o cabelo e a cabeleireira começou a puxar conversa com Maria:

            – Mulher, você mora em qual rua aqui em Mirassol?

            E Maria:

            – Na rua ao lado. Na Rua das Orquídeas.

            E a cabeleireira:

            – Mulher, pois tem um pessoal nessa sua rua que faz tanto barulho em dia de jogo do Flamengo, que às vezes eu penso até em chamar a polícia. Eles ficam até de madrugada discutindo e gritando e não tem quem consiga dormir.

            Com essa Maria ficou calada, mas Túlio Filho que estava só ouvindo a história, não se conteve:

            – É lá em casa.

            E a cabeleireira totalmente desconcertada para uma Maria ainda mais sem jeito:

            – Pois é mulher, mas até que eu gosto de futebol!!!

            Depois dessa ninguém falou mais nada até terminar o corte de cabelo.

            Quando voltou pra casa, Maria veio me contar da vergonha que havia passado e deu o ultimato: “Ou diminuiu o barulho e a duração da bebedeira ou não tem mais jogo aqui”.

Falei com os “zuadentos” e todos concordaram em maneirar na balbúrdia etílico-ludopédica. Durante algum tempo o comportamento foi exemplar. Fim de jogo cada um para sua casa, nada de discussão ou saideira. Mas, após uns quatro jogos tudo voltou ao “normal”.

            Ah! E a vizinha perdeu uma cliente.

Escrito por Marco Túlio

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