“Tudo passa: só a verdade permanece.”
(Dostoiévski, Os irmãos Karamázov)
“Tenho para mim que sei, como todos os brasileiros, os três primeiros minutos de qualquer assunto.” (Otto Lara Resende, Escritor e jornalista)
“Marcos vai ao banheiro e Flávia tem uma ideia para se livrarem do “tudólogo” (…) No apartamento, João Pedro e Flávia gargalham imaginando o que o tudólogo deve estar falando para Clara.”¹ resumo do Capítulo 154, 18 de maio de 2007, da novela Alta Estação exibida pela Record.
Além do tudólogo outra figura bastante comum principalmente nas redes socias é o ultracrepidário. A palavra deriva de dois vocábulos latinos – ultra e crepidam – que integram a máxima Ne sutor ultra crepidam (“não vá o sapateiro além da sandália”), alusão a um célebre incidente que, segundo Plínio, o Velho (XXXV, 10, 36) teria ocorrido com Apeles, o famoso pintor da Grécia antiga.”²
Os dicionários brasileiros e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) não contemplam as palavras tudólogo – pessoa que comenta ou dá opiniões sobre qualquer assunto como se fosse umperito ou especialista de cada um desses assuntos – e ultracrepidário – que ou quem dá opiniões sobre um assunto que desconhece ou de que conhece pouco.
Talvez você conheça ou já se deparou com alguém com este perfil em algum lugar, qualquer semelhança com aquele seu (meu) conhecido que sabe tudo não é mera coincidência.
Você posta algo em sua rede social e de repente lá vem uma legião deles – às vezes – enfurecidos e com os argumentos mais agressivos e esdrúxulos. Eles sempre existiram, mas com o advento das redes sociais – WhatsApp à frente – proliferaram em escala geométrica, se você – caro leitor(a) – participa das redes sociais com certeza já se deparou com um espécime.
E não “orgulhe-se” pensando que é um fenômeno exclusivamente brasileiro, é um fenômeno planetário, segundo o escritor e filólogo italiano Umberto Eco: “O drama da Internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”. Registre-se que o tudólogo não habita apenas as redes sociais, folhei um jornal, revista, sintonize o rádio ou ligue a TV e lá está o “polímata” — aquele que estudou ou sabe muitas ciências — pontificando sobre tudo.
Ricardo Reis é rigoroso na definição do tipo: “Logo, para o bom tudólogo, não importam dados estatísticos e nem quaisquer outros meios comprobatórios de caráter técnico ou científico. De sorte que, se os fatos apresentados não estiverem em consonância com as convicções pessoais do tudólogo, este vê-se devidamente qualificado e habilitado para opinar, ainda que sem qualquer fundamentação concreta. Salvo sua linhe(sic) de raciocínio e argumentação tudológicos.”³
¹ https://amonovelas.com.br/novelas/alta-estacao-resumo/
² https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/noticia/2013/09/claudio-moreno-ultracrepidario-4284580.html
³ http://estudostudologicos.blogspot.com/2009/11/nasce-um-novo-ramo-da-ciencia-tudologia.html#comment-form
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