“I’ve paid my dues time after time, I’ve done my sentence but committed no crime, and bad mistakes, I’ve made a few…”. Mal começa a canção que o professor de meu filho colocou no grupo de WhatsApp da sala deles e eu caio num choro sentido. É verdade, Lucenildo, nós somos os campeões. Vocês, professores, mais que muitos. Se reinventaram e não deixaram a peteca cair, conseguindo manter a atenção e o aprendizado da garotada. Os meninos e meninas, então… Ai, nem sei o que falar. O nó sobe à garganta e as lágrimas não me deixam escrever.
Que ano difícil, Senhor! Quantos e imensos desafios. Manter o corpo são e a mente o menos enlouquecida possível não tem sido tarefa fácil para ninguém. A gente disfarça.
Olho ao redor e vejo os preparativos para celebrar Natal e Ano-Novo e mais uma vez me emociono. Eu sei, sou chorona mesmo. Até comerciais de margarina me fazem derreter, que dirá as pessoas nas ruas, com fome, tentando alguma forma de sobreviver com um mínimo de dignidade.
Nas redes sociais, depoimentos de quem sobreviveu e de quem perdeu entes queridos para o Sars-Cov-2. Também perdi alguns. E soube ontem, ao receber o resultado de um exame de sorologia que todos fizeram no trabalho, que tive Covid-19. Enquanto murmuro preces de agradecimento por não ter sofrido com essa terrível doença, peço perdão aos céus por aqueles que posso ter contaminado sem querer. Eu não tive sintomas. Perdão!
Quem vê corre e minha cara de quem finge ser brava nem imagina que, como Saramago, tenho um coração de carne que sangra todos os dias. E torce e chora pelos outros. E dá gargalhadas. Porque se existem duas coisas que eu não quero perder nunca é a capacidade de rir — de mim mesma e de tudo — e a esperança.
We are the champions, my friends, já cantou meio desafinado o professor. Tá certo ele. Vamos em frente. Respira fundo e renova a vida dia a dia, momento a momento. O sol há de brilhar mais uma vez e eu sempre espero luminosas manhãs.
Ana Cadengue
Jornalista
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