Olhar para uma folha em branco na tela do computador passou a ser novidade para mim neste 2020. Há tempos não sentava exclusivamente para escrever. Franzir a testa, fazer careta sem saber por onde começar, aconteceu agora. Posso dizer que estou um “cara fora de forma” na escrita. Diferente do meu grande companheiro diário, o Photoshop, que seus pincéis já me tomam as cores e o tema da charge que trago na cabeça antes mesmo de esboçar qualquer reação com a mesa digitalizadora. Não abrirei mão das charges, é certo, mas também cultivarei este espaço da Papangu na Rede além das formas.
A escrita me acompanhou na era Papangu em vários anos a partir de 2004. A diferença é que hoje não há nada que escrevamos para não passar no crivo de ‘especialistas’, que abundam e se multiplicam mais e mais, a cada dia, nas redes. Às vezes, agindo feito insetos, com disposição e tempo, muito tempo para esmiuçarem e disseminar uma praga. Seguindo suas próprias razões, motivos escusos, que distorcem a realidade quase sempre. Primeiro, se apoiam em organizações, e após o aval da mensagem de ódio, compartilham entre outras mil, és tu Brasil um grande grupo de Whats. Entendo que muito se dá pelo mau-caratismo mesmo, pois não acredito na simplória burrice destes.
Perdemos bons quadros para a canalhice, para o banditismo social. É bastante claro que a interpretação mostra de que lado se está. Quanto ao estrago, às vezes, faz desmoronar o quê e quem estiver pela frente, nomes, famílias, reputações, histórias.
Mas, isso é apenas um olhar superficial, não tenho como mostrar aqui a grande ferida dessa engrenagem, que geralmente causa medo.
Se quiserem mergulhar fundo no tema, leiam “A máquina do ódio: notas de uma repórter sobre fake news e violência digital”, da jornalista Patrícia Campos Mello. Ela escreve que na versão moderna do autoritarismo — em que governantes não rasgam a Constituição nem dão golpes de Estado clássicos, mas corroem as instituições por dentro —, não é necessário censurar a internet. Nas “democracias iliberais”, segundo o vernáculo do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, basta inundar as redes sociais e os grupos de WhatsApp com a versão dos fatos que se quer emplacar, para que ela se torne verdade — e abafe as outras narrativas, inclusive, e sobretudo, as reais.
Chagamos então ao fundo do poço? Pode ser. Ainda assim, mesmo não estando nada fácil empreender tempo em páginas com tantos haters à espreita, com tanto ódio gratuito, seja na arte da escrita ou da charge, contem comigo, um Papangu na Rede que nunca se dedicou ao silêncio.
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