Provocados pelo Núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural (SP), artistas nordestinos criaram cenas de até quinze minutos baseadas em questões contemporâneas, estimulados pela temática “Encruzilhada Nordeste(s): (contra)narrativas poéticas”, que questiona as construções estereotipadas ou colonizadas das identidades nordestinas.
Mas afinal, o que é o teatro nordestino? Quem instantaneamente pensa na figura do cangaceiro, nas peripécias de João Grilo, nas fitinhas coloridas, no figurino de chita com algodãozinho, na sanfona acompanhada da zabumba e triângulo, no cenário de cactos, no chão rachado, na seca e na fome, está tendo uma visão limitada sobre o nordeste e/ou a cena teatral nordestina, no entanto, é esta a imagem que permeia o senso comum da grande maioria dos brasileiros.
Para que o Nordeste se constituísse numa unidade imagética e discursiva, foi necessário que antes inúmeras práticas e discursos “nordestinizantes” surgissem de maneira dispersa, para serem reunidos num momento subsequente: obras literárias, filmes, peças, artes visuais, etc.
Diante disso, a arte tem mostrado que a pluralidade e a polifonia do Teatro no Nordeste transcende conceitos engessados, o que faz com que artistas se sintam livres para trabalharem fora de um contexto de homogeneidade. Foi pensando nisso que a Cia. Pão Doce de Teatro criou “Constança”, que mistura o popular e o contemporâneo, bebendo na fonte da poesia de cordel e da poesia marginal, no rap e no repente, em uma nordestinidade que povoa e que foge do imaginário popular.
A cena de quinze minutos representa a própria constância do grupo em suas pesquisas, em sua afirmação enquanto grupo que vive do ofício do artista no interior do RN, a constância na repreensão de discursos preconceituosos e xenofóbicos em frases do tipo “seu teatro não parece nordestino”, “seu sotaque é engraçado”, e tantos outros momentos vivenciados pela Cia. Pão Doce. Toda a cena foi gravada em plano sequência, técnica do audiovisual em que as cenas são gravadas sem corte de câmera, trazendo a metáfora do “constante” também para o formato do vídeo. Após a exibição o grupo participará de um bate papo com o público.
A Cia. Pão Doce, que vive exclusivamente do teatro de grupo em Mossoró (RN), foi a primeira Cia. da região oeste do Rio Grande do Norte a experienciar esta nova linguagem híbrida entre o teatro e o audiovisual. Ainda sem uma nomenclatura específica, o grupo chamou as suas montagens de experimentos cênico-virtuais, com espetáculos executados ao vivo através de plataformas como a Zoom ou trabalhos gravados disponibilizados no YouTube do grupo ou de empresas e festivais.
Serviço
CONSTANÇA | 29 de maio – 20h | Itaú Cultural (SP) – ingressos gratuitos, disponíveis no link na Bio do Instagram @ciapaodoce.
CONHECENDO A CIA. PÃO DOCE
A Cia. Pão Doce de Teatro desenvolve desde 2002 projetos na área de artes cênicas, música, audiovisual e dramaturgia, em Mossoró/RN. A partir de 2012, com a primeira edição do projeto Pão Doce da Rural, o grupo passou a dedicar a sua pesquisa e produções no âmbito da cultura popular nordestina, visando preservar e difundir, a partir do teatro, manifestações populares como o cordel, o repente, o coco, a ciranda, o maracatu, o pastoril, caboclinhos, entre outras expressões. Desde então a Companhia, realizou a montagem de 11 (onze) espetáculos, circulou por 19 (dezenove) estados, entre mais de 120 (cento e vinte) cidades do País. Foi através do espetáculo “A Casatória c’a Defunta”, que a Cia. Pão Doce ganhou visibilidade e reconhecimento nacional, quando participou do projeto Palco Giratório 2016, e circulou pelos principais Festivais de Teatro do país.
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