Em julho de 2005, publiquei na Papangu uma crônica intitulada UMA CANTORA POTIGUAR, saudando o primeiro CD de Roberta Sá – BRASEIRO. Quinze anos se passaram e, para nosso contentamento, a artista consolidou sua carreira como um dos mais importantes nomes da MPB, já contabilizando quase uma dezena de discos.
Para refrescar a memória, vale lembrar que Roberta Sá alcançou visibilidade quando em 2002 participou do programa FAMA da Rede Globo de Televisão e, a partir daí, só fez crescer, convivendo com a fina flor da música popular brasileira. Agora, sua primeira gravação, feita sob encomenda para ser distribuída como brinde por uma empresa multinacional, chega ao esquema de comercialização com capa sofisticada e com o título de SAMBAS & BOSSAS.
Nada mais justo pois o trabalho já revelava o bom gosto e o requinte que tem sido a principal característica de nossa cantora. Passeando por um repertório que vai de Nelson Cavaquinho a Chico Buarque, passando por Cartola e Tom Jobim, Roberta já se impunha como intérprete e o disco não poderia ficar apenas na mão de poucos privilegiados que talvez nem deem o devido valor pois nem sempre aficionados de música popular de qualidade.
Durante estes quase 20 anos, Roberta Sá compôs, gravou, fez shows, produziu, apresentou programas na televisão, fez lives durante a pandemia e sempre se fez acompanhar dos maiores nomes de nossa MPB. Já no disco BRASEIRO, Ney Matogrosso e o grupo MPB-4 faziam participações e, com o correr do tempo, ela dividiu gravações com Gilberto Gil, que compôs um disco inteiro para ela, Jorge Benjor, Chico Buarque, Martinho da Vila, variando de estilo mas com característica bem própria, se impondo também pela simplicidade e simpatia com que sempre se conduziu.
É quase impossível pinçar no seu repertório canções e discos que melhor a representem mas, particularmente, considero seu disco QUANDO O CANTO É REZA, de 2010, gravado com o Trio Madeira Brasil, seu melhor trabalho. Roberta Sá foi buscar no repertório de Roque Ferreira, o sambista baiano, um dos compositores preferidos de Maria Bethânia, treze preciosas composições com as características do samba produzido na Bahia fazendo a gente pensar nos versos do poetinha que dizia que “o samba nasceu lá na Bahia e se hoje ele é branco na poesia, ele é negro demais no coração”.
Roberta sá ainda tem muito para dar e provoca reviravoltas em sua carreira, sem nenhum medo de errar, gravando dos jovens aos antigos e mostrando para as novas gerações que existe música de qualidade e que para fazer sucesso não é necessário apelar para a música de consumo fácil, facilmente esquecida.
O termo música popular brasileira surgiu em 1965 com a realização do primeiro seu primeiro festival e a sigla MPB foi usada inicialmente para denominar uma música dita de protesto e com conteúdo social, se desvirtuando com o passar do tempo, chegando a englobar o pop e o folclore mas, durante estes 56 anos de sua existência, Roberta Sá é nossa primeira representante como intérprete de longa penetração pois só tivemos artistas de sucesso nos gêneros pop e brega. E que representante!
