Lá pelos idos dos 80, eu trabalhava no Banorte e o meu primo presepeiro Gildo, trabalhava no Bradesco.
Uma vez por ano, o sindicato dos bancários promovia o campeonato da categoria. Era uma disputa acirradíssima, que durava cerca de dois meses com jogos sempre aos sábados pela manhã.
Àquela época, Mossoró possuía dez agências bancárias: Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Caixa Econômica, Bandern, Banorte, Bradesco, Banco de Mossoró, Banco Itaú, Banco Econômico e ainda tinha uma agência da Apern, a poupança do estado, que também participava do campeonato. Acho que não esqueci nenhuma.
O nosso sindicato era uma potência com quase 500 associados contribuintes e o campeonato dos bancários era uma das competições mais importantes do futebol amador mossoroense.
Mas, vamos ao que interessa.
Eu não fazia muita falta ao time do Banorte, já que era reserva daqueles que só entravam em última instância, ou seja, quando alguém se machucava e eu era o único no banco de reservas. Mas, modéstia à parte, nunca fiz feio nas vezes em que fui convocado a entrar em campo. Na minha opinião, é claro.
Já o status de Gildo era outro. Ele era o principal atacante do time do Bradesco. Ponta direita veloz e driblador, chegou a participar de “peneiras” no Potiguar e no Baraúnas. O problema eram os jogos no sábado pela manhã.
Como é do conhecimento até do “mundo mineral”, como diria o grande jornalista Mino Carta, a rotina etílica de bancário é começar a beber na sexta-feira depois do expediente e “assistir ao sol nascer” (Cartola) ainda na gandaia. Algumas horas pela manhã para tentar diminuir a ressaca – já que é impossível curá-la – e retomar os trabalhos no sábado à tarde e “arrochar”, como a gente diz lá em nós, até o domingo. Aí é rede até recomeçar toda a chatice do serviço bancário na segunda-feira.
Mas, vamos ao que interessa, outra vez.
Houve um ano em que o campeonato estava sendo disputado no campo do SESC. Quase em frente ao local dos jogos existia um boteco, o Bar de Seu Raimundo, que servia uma panelada de primeira categoria e que a turma de bancários adorava frequentar, sendo Gildo um dos mais assíduos.
Sábado, dia de jogo e o Bradesco abriria a rodada logo às 9 horas enfrentando o “favoritaço” Banco do Brasil. O time já se preparando para entrar em campo e nada de Gildo aparecer.
Seus colegas resolveram então ir procurá-lo lá em Seu Raimundo. Não deu outra. Lá estava ele com a tradicional “quartota” (um quarto de uma garrafa de cana) na mesa e devorando um prato de panelada.
Com muita dificuldade conseguiram leva-lo para o local do jogo e o convenceram a tirar a farda do banco. Jogaram o bebum debaixo de um chuveiro e com ele ainda todo molhado vestiram o uniforme do time. Quando o treinador, que via de regra era um dos gerentes da agência, viu aquela presepada resolveu iniciar a partida com o seu craque no banco de reservas, pra ver se ele se recuperava um pouco da bebedeira.
Começou o jogo e em menos de 15 minutos o Bradesco já perdia por 2 a 0. O treinador desesperado se virou prá Gildo e perguntou: “E aí, dá prá entrar?”. E Gildo: “Na hora!!!”.
No primeiro lance, ele recebeu um lançamento em profundidade e saiu correndo em direção a bola. Quando já estava bem pertinho de alcançá-la, próximo da linha de fundo, parou, ajoelhou e começou a vomitar.
A panelada de Seu Raimundo ficou toda espalhada no gramado.
Um dos amigos que tinham ido pegá-lo no boteco, gritou: “Aí, Gildo! Quer outra “quartota”? Tem que aproveitar a panelada”.
Desse dia em diante, ele ficou conhecido nos meios esportivos bancários como “Quartota”, o ponta direita.
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