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O IDIOTA DA ALDEIA E OS FAKES

O drama da Internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a dono da verdade, disse o escritor Umberto Eco ao receber o título de doutor honoris causa em Comunicação e Cultura na Universidade de Turim, na Itália.

A existência das redes sociais, entre outras coisas, permitiu que a mentira se espalhasse com mais velocidade e abrangência do que antes e tudo pode ser divulgado através de algo reconhecido hoje como viciante e manipulador. Não que a imprensa tenha sido sempre honesta e imparcial mas hoje, com milhões de jovens e crianças com um aparelho na mão e acesso ao que nele foi introduzido, chega a ser preocupante a disseminação dos chamados fake news.

Não há como confiar nas redes sociais e quem o faz pode se arrepender profundamente ao difundir aquilo em que acreditou e não teve o cuidado de verificar a veracidade. Difundem-se artigos, crônicas, opiniões, como tendo sido escritos por escritores famosos como Gabriel Garcia Marques, Vinicius de Moraes e Luis Fernando Veríssimo que não foram escritos por nenhum deles. Fatos políticos são deturpados e veiculados de acordo com o interesse do usuário, gerando brigas e brigas.

O documentário da Netflix O DILEMA DAS REDES merece ser visto pois esclarece e desfaz mitos e mostra que há um verdadeiro batalhão de profissionais à disposição das redes, encarregados de disseminar a mentira e manipular o usuário. Em determinado momento, um ex-executivo dessas redes diz que há apenas dois negócios que classificam sua clientela como usuário, as redes sócias e as drogas.

Na área da música popular, os erros são criminosos. Já encontrei em vários livros publicados sobre o assunto, erros gritantes, especialmente no que se refere à autoria de canções, tendo em vista que os autores, na hora da citação confiarem no google, que serve para tudo. Qualquer pessoa que sente uma dor de cabeça ou uma coceira no nariz procura logo Dr. Google e já chega no médico com um diagnóstico.

No campo da música popular os autores das canções são quase sempre substituídos por seus intérpretes. Cidadão (Tá vendo aquele edifício, moço), de autoria de Lúcio Barbosa, aparece como sendo de Zé Ramalho; Gostava tanto de você, de Édson Trindade, aparece como sendo de Tim Maia, Chalana, de Mário Zan e Arlindo Pinto, aparece como sendo de Almir Sater e A natureza das coisas (aquela da burrinha da felicidade) de Accioly Neto, aparece como de Flávio José. Sites de letras de música e cifras também comete os mesmos erros.

Se neste campo inofensivo, as redes sociais e sites disseminam inverdades, imagine-se no campo da política, da saúde,  da economia. Estamos no mato sem cachorro. Frequentemente recebo ligações de amigos que se interessam por música para dar informações e dirimir dúvidas mas, para quem gosta e procura um site de confiança, recomento o IMMuB, uma organização voltada para a preservação e promoção da música popular brasileira. Há o costume de se dizer que somos um país sem memória e já é tempo de dela cuidarmos e reconhecermos que música é cultura e retrato de um povo.

Tem uma outra coisa que é a divulgação de histórias mentirosas que tentam explicar como nasceu uma canção, ninguém sabe de onde parte, mas isso é assunto para outra conversa. Enquanto isso, continuemos ouvindo música de boa qualidade para enriquecer nossas vidas e ajudar a atravessar o tempo negro porque o mundo passa há mais de um ano. Saúde!

Escrito por Damião Nobre

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