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Pecaminoso

Por Natália Chagas

Olhando aquele corredor de homens sentados em banquinhos, tomando cachaça barata, moscas voando sobre salgados expostos, sofrência na caixa de som, ele se sentia superior. Pediu uma água com gás, olhou o remédio em sua mão, já sentia a dor de cabeça passando, mas tomou o remédio assim mesmo. Aquele cheiro de urina entorpecia sua mente, o perfume da prostituta parada ao seu lado o instigava como um vício patético e incontrolável. Ele olhava para o outro lado da rua, lá estava o cinema mais decadente de toda cidade. Homens entravam de mãos dadas, saíam se beijando, ele os via, o estômago embrulhava, e o sangue correndo mais forte em suas veias.

Ele pensava em entrar pois queria entender por que ainda não conseguiram fechar aquela espelunca. Por todo tempo em que ele ficou observando, não havia um grupo familiar que passasse sequer na porta. Ele já denunciara tantas vezes à prefeitura aquela pouca vergonha, então o que fazia vingar o inferninho. Sua curiosidade era meramente das questões morais da sociedade. Um banquinho no começo do corredor esvaziou, ele sentou, pediu uma cachaça barata e tomou. Junto com a pinga, tomou a coragem de atravessar a rua, comprar um ingresso e entrar no cinema.

O local todo escuro coberto de um tapete cheio de mofos e baratas estava com cadeiras de casais que se beijavam. Ninguém parecia se importar com o filme. Ele escolheu uma fileira vazia, sentou-se. Algumas cadeiras à sua direita, um homem com olhos fechados respirava fundo, segurava nos braços da cadeira, e parecia contrair todos os músculos de seu corpo até um gemido libertou toda adrenalina como se sua alma fosse renovada. Ele olhava a cena, e sem perceber sua boca estava aberta e salivava a ponto de babar. Um rapaz quase imberbe levanta sua cabeça do meio das pernas do homem em transe, percebe o olhar de luxúria do observador, limpa sua boca e fala:

— 30 reais e você pode ser o próximo, tio!

Que descaramento! Absurdo! Ele se levanta, sai abruptamente do cinema, revoltado, com sangue correndo forte nas veias, seus músculos enrijecidos, virou no primeiro corredor vazio que viu, desabotoou as calças, abriu o zíper, segurou seu pau, massageou o membro duro e pulsante e, em segundos, gozou.

Pensou consigo que a única coisa a fazer naquele momento era tirar de si a atmosfera fétida daquele local. Sentiu-se aliviado por ter feito a coisa certa. Todo aquele ar pandêmico cheio de doenças e pecados só poderia provocar a ira de Deus. Ele sabe de todas as coisas, e vai ajudar a varrer deste mundo esses pecadores nojentos.

No caminho para casa, voltava a sua memória o rosto daquela criança, que obviamente não sabia o que estava fazendo. Um inocente que deveria ser salvo do inferno. Essa seria sua missão: salvar a alma daquele ser desprotegido. Deus o guiaria na luta contra o demônio, e essa criança seria sua iniciação na batalha do juízo final.

Voltando à porta do cinema no dia seguinte, aguardou a chegada do infante. Não tardou muito, lá estava seu protegido no meio de um grupo de seres desalmados. Ele conseguia ver de longe a malícia inescrupulosa dos mais velhos querendo levar para a perdição seu amado. Ele tinha que esperar que o ingênuo estivesse sozinho, ficou por algumas horas na porta do cinema, até que seu alvo de adoração saiu sozinho. Ele o seguiu um pouco de longe. Quando percebeu que estava próximo ao beco vazio, que ele já conhecia bem, o puxou para dentro. O menino assustou-se, mas reconheceu quando virou e disse:

— Aí, tio! Voltou! E aí? Quer o trabalho completo?

— Eu vim te salvar. Preciso livrar seu corpo das impurezas.

Pegou o menino pelo braço, imprensou seu peito contra a parede, rasgou sua bermuda, e com toda sua força, adentrou seu pênis no ânus do menino, que gritava de dor, chorava e pedia para parar. Forçando cada vez mais, gritava “sai, demônio!”, e paralisava o menino com seu antebraço na nuca para, inclusive, fazê-lo parar de gritar. Quando finalmente gozou, chorava em meio de “Aleluias, Senhor!”, saiu do menino, que desabou no chão morto.

— Receba, Senhor, essa alma que lhe envio em nome da salvação dos pecados!

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