Sobre

Entrevista

Por Natália Chagas

Ela se olhava no espelho do banheiro, se concentrando para a entrevista. Via, com cuidado as marcas no rosto que a vida havia lhe dado. Chegou a pensar que ganhou mais do que merecia. Tentou lembrar o que era dez anos atrás. Tanta coisa havia passado e ela estava ali naquele mesmo lugar de quando tudo começou. Dez anos e o mesmo local, a mesma entrevista. As pessoas não eram as mesmas, isto era certo. Ela e Josué mudaram muito. Em pensar que aquela primeira entrevista impulsionou sua carreira e seu divórcio. Tanta coisa aconteceu desde então, tanta viagem, tanta turnê. Nenhum amor. Ninguém havia substituído Josué como seu companheiro.

— Cinco minutos, Helena! — avisou Renato, eterno parceiro de Josué. Com um leve sorriso, ele esperou a resposta de Helena com o olhar.

Quase nove anos depois de seu último encontro com Josué, ela sentia um frio no estômago terrível que não sabia identificar se medo, constrangimento ou tesão que sentia naquele momento.

Ela se lembrou das últimas palavras dele antes de dar as costas e sair em rancor: “Nunca devia ter te concedido aquela entrevista…”. Meses seguiram com convites atrás de convites tirando dos dois o que eles mais amavam, o tempo que compartilhavam em conversas, bebidas e sexo. Ele recolhia sua mágoa diária a cada passo de um novo sucesso de Helena e menos um dia ao seu lado. A mágoa se tornava rancor, e depois no irremediável desprezo. No fim de tudo, não conseguiam trocar olhares sem ressentimentos. Não houve nem lágrimas para fechar a dor.

Ela se levantou daquele camarim improvisado, caminhou até o palco, tentando desacelerar o coração. Chegando nos bastidores, viu Josué dando as últimas orientações de luz e posicionamento das câmeras. Seu coração deu um salto. Esperou para que ele terminasse os detalhes, pois ela sabia que ele não gostava de ser interrompido. Quando ele finalizou, deixando tudo do jeito que ele gostava, ela procurou seu olhar. Fazendo-se ser observada por ele, se aproximou e o cumprimentou. Ele, de forma muito profissional, estendeu a mão e disse um formal “bem-vinda!”, orientou onde ela iria sentar e como se daria a entrevista, e pediu licença. Ela sabia de tudo aquilo. E sabia que ele saía naquele momento pra se concentrar. Ela conhecia todo aquele procedimento. Só não sabia quem era aquele homem na frente dela. Sentia estranho o fato de ele estar tão distante e a tratar com tamanha indiferença.

Resolveu não pensar em coisa alguma durante toda a entrevista que não estivesse relacionado à sua profissão. Durante aquela uma hora, ela se tornou tão impessoal quanto ele. Quando chegaram ao fim, ele, novamente, lhe ofereceu a mão, agradeceu e saiu. Ela, por alguns segundos, ficou ali parada tentando entender o que havia acontecido.

Fora do estúdio, trancou-se em seu carro e desabou em choro doído. Começou a dirigir, e se viu fazendo o trajeto para casa que eles um dia dividiram. Parou em frente. Ainda era a mesma. Até o portão, que ele tinha prometido consertar, estava quebrado do mesmo jeito. Ela ficou olhando até decidir entrar. Sabia como abrir o trinco por fora sem chave. Entrou sem avisar, sem temer o aviso à polícia de invasão e sem constrangimento. Cada passo que dava, se sentia mais e mais em casa. A porta da frente, entreaberta, precisava apenas de um empurrão para abrir completamente. Ela entrou.

A imagem era clara no meio da escuridão. A cadeira do sofá com ele e a garrafa de uísque como companheiro juntos no propósito de varar a noite.

— Eu quase acreditei na sua neutralidade.

— Sempre te falei que eu era um ótimo profissional.

— Nunca duvidei disso.

— Por que está duvidando agora?

— Não sei… acho que não queria que eu fosse como outros. Queria ser diferente em sua vida. Acho que queria que fosse para sempre.

Ela caminhou até poder virar de frente e olhar no seu olho marejado. Ele, automaticamente, se jogou em sua cintura, olhou para cima diretamente em seus olhos e soltou:

— Você sempre foi diferente.

Ela abraçou sua cabeça contra seu ventre, e ele puxou sua calcinha abaixo de sua saia. A língua de Josué invadiu toda buceta de Helena concentrando-se em um movimento macio e constante de seu clitóris. Ela, enlouquecida, perdeu o controle de suas pernas após o primeiro orgasmo, caiu ao chão, puxando seu corpo para o encaixe do pau dentro da vagina molhada, com movimento contínuo, rude, carinhoso e rítmico que eles conheciam tão bem. Os olhos se encontram, o ato intensifica, os gemidos aumentam e as almas se entregam ao gozo. Ele se deita ao lado dela. A respiração, aos poucos, se acalma. Ela se levanta, põe sua calcinha na bolsa, e deixa a porta entreaberta, pensando quando será a próxima entrevista.

“Negro bufento”

O AJUDANTE DE ORDENS