CANCELAMENTO – Dia desses fui removido de um grupo de WhatsApp formado majoritariamente por bolsonaristas de fé, pessoas que vivem alheias à verdade, que enxergam no presidente uma divindade, um ser supremo incapaz de cometer qualquer erro.
Como eu não me continha e por vezes desmascarava uma fake news fabricada no gabinete do ódio, fui removido. Não professava a fé deles. Na expressão da moda, fui cancelado.
A prática do cancelamento vem de longe, uns 1.000 anos. Na Grécia antiga, os cidadãos se reuniam e escreviam em óstracos (ostrakon) o nome de quem eles queriam ver longe do convívio daquela sociedade. Os motivos eram os mais diversos: traição, mentira, incesto, adultério. As reuniões ocorriam uma vez por ano.
Quem recebesse 06 mil votos era convidado a sair da cidade, podendo voltar, caso quisesse, após dez anos. O nome ostracismo vem daí.
Até chegar aos dias atuais, ainda passamos pelos bodes expiatórios, degredados e berlindas, mas aí são outros quinhentos.
100 DIAS DE ALLYSON – Desde o início da segunda semana deste mês o prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra (SDD), concede entrevistas aos órgãos de imprensa do município sobre os primeiros cem dias de sua administração.
Outros tantos órgãos publicaram matérias analisando o período. Quase todos os textos trouxeram análises, no geral, positivas. Não poderia ser diferente.
Até agora, o prefeito Allyson não fez nada que merecesse uma crítica mais incisiva. As falhas apontadas se referem mais ao cotidiano de uma administração municipal, como falta de um medicamento numa unidade de Saúde, demora para realizar um serviço etc.
O prefeito tem se mostrado muito dinâmico (às vezes até demais) e muito disposto, além de sempre procurar acompanhar de perto o que se passa nos mais diversos setores da administração, não sendo raro aparecer numa UPA em pleno domingo à noite, por exemplo.
Até agora, a avaliação é positiva.
NOGUEIRÃO – Inegavelmente, o maior feito do prefeito Allyson Bezerra tenha sido desatar o nó que envolvia o estádio Manoel Leonardo Nogueira (Nogueirão). Há tempos havia uma querela envolvendo a propriedade do estádio, problema este passado de prefeito para prefeito, sem solução.
Antes dos 100 dias, contudo, o prefeito conseguiu no Judiciário municipalizar o Nogueirão, e também desinterditá-lo. Um verdadeiro gol de placa.
Parece até a famosa frase de Jean Cocteau: “Sem saber que era impossível, foi lá e fez”.
TÚLIO “GUEPARDO” – Por vezes, quando vinha a Mossoró, o comandante-em-chefe desta publicação, Túlio Ratto, entrava em contato com este humilde para nos encontrarmos e batermos um papo, invariavelmente na companhia de algo etílico.
O homem, entretanto, mudou. Virou fitness, acoplando ao cotidiano termos como “tiro”, “longão”, “intervalado” e “pace”. Está na mesma vibe de outros três grandes amigos: Tuca Viegas, Ailson Fernandes e Gilson Cardoso.
Foi visto dia desses em Mossoró, mas não numa mesa de bar, e sim praticando corrida de rua nas avenidas do bairro Nova Betânia. Errado não está, pelo contrário.
De todo modo, espero que da próxima visita a Mossoró ele me avise. Pode tomar whey protein, já eu vou na boa e velha cerveja (e agora tem umas artesanais que são muito boas, viu?).
AUTOSSUFICIÊNCIA EM PETRÓLEO – Por dia, o Brasil produz 2,9 milhões de barris de petróleo (bpd), quantidade bem mais do que suficiente para abastecer o país. Ocorre que nossas 17 refinarias não dão conta de transformar todo o óleo bruto que produz em gasolina, diesel e outros derivados.
Nessa matemática complexa, que envolve várias questões, o Brasil vende o excedente de óleo cru, aproximadamente 46% do que produz, por pura falta de capacidade de refino. Por outro lado, compra 22% do diesel e 15,6% da gasolina que consome.
Cá pra nós, a Petrobras não tem muito interesse em atuar na área de refino, vez que o setor de produção é bem mais lucrativo. A solução que apontam é entregar o refino à iniciativa privada, mas aí tem um nó. As empresas só aceitam refinar se puderem decidir o preço do produto, consoante as leis de oferta e procura, o que não acontece no Brasil.
Empresários do setor acreditavam que o presidente Jair Bolsonaro fosse aceitar as condições e então liberar o refino à iniciativa privada, sem interferir no valor, mas o presidente, sob pressão popular, já deu sinais de que manterá a política dos governos anteriores.
TAXAÇÃO DE LIVROS – Em mais uma investida na constante cruzada contra a educação e o conhecimento, o governo federal quer taxar os livros em 12%, vontade inserta no PL nº 3887.
A isenção tributária sobre livros remonta à Constituição Federal de 1946. Foi uma proposição do então deputado constituinte Jorge Amado, que havia sido o mais votado em São Paulo. O objetivo era cristalino: democratizar a leitura, permitindo que alcançasse as classes mais pobres.
O constituinte de 1988 seguiu na mesma toada, e os livros continuaram com isenções tributárias.
Agora, o ministro da Economia, Paulo Guedes, quer acabar com isso, alegando que livro é coisa de gente rica. Impressiona como o governo Bolsonaro investe contra a educação, conhecimento, cultura, artes e ciência.
Mas, dá até pra entender, a sapiência é um grande obstáculo para governos obscurantistas.
O ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também apoia o fim das isenções.
BRASIL E A OCDE – No primeiro semestre de 2019, o presidente Bolsonaro e seus filhos agiam para convencer o então presidente dos EUA, Donald Trump, a interceder pela entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), um seleto grupo que reúne 36 países, com sede na França.
De prima, os EUA se prontificaram a ajudar, mas em outubro daquele mesmo ano, a maior potência do mundo indicou outros dois países: Argentina e Romênia, silenciando quanto ao Brasil. A notícia caiu como um enorme balde de água fria. À época, ninguém entendeu nada.
Mais recentemente, o motivo veio à tona. A OCDE criou um grupo para monitorar o Brasil, já sabedor de suas intenções, e então concluiu que o país não preenchia alguns requisitos, como o combate à corrupção e os cuidados com o meio-ambiente.
O Grupo Permanente de Monitoramento, formado por representantes dos EUA, Itália e Noruega, verificou que houve um afrouxamento no combate à corrupção no país, tornando assim inviável a inserção do país no chamado “Clube dos Ricos”.
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