Sim, é o já famoso filme póstumo de Chadwick Boseman (o astro de ´Pantera Negra`, infelizmente falecido há poucos meses de câncer) e vamos voltar a este tema específico. Mas, o filme tem história e trunfos poderosos. Dirigido por George C. Wolfe, desconhecido no cinema mas premiado no teatro, é baseado na premiada peça de August Wilson, encenada em 1984.
A origem cênica do filme não deixa dúvidas, o longa inteiro parece teatro filmado. Mas, nem por isso monótono ou estático. O filme tem bela fotografia, edição bem interessante, aproveitando os tons pasteis da Chicago dos anos 20, quando somos apresentados a um dia de ensaio e gravação de Ma Rainey (vivida de maneira visceral por Viola Davis) e sua banda de blues, com todos os conflitos gerados por mágoas, lembranças de racismo e violência, religião, mesquinharias e grandezas de cada um dos músicos da banda. O roteiro é contundente e questiona não apenas o racismo, mas a percepção que negros tem de si mesmos e estas partes são bem poderosas.
Como sempre Viola enche a tela de talento e carisma. Mas quem rouba o filme é Chadwick, em seu derradeiro papel, que está surpreendente e brilhante como Levee, jovem e ambicioso trompetista que tem as melhores e mais impactantes falas do filme. Tudo indica que vencerá Oscar de ator coadjuvante postumamente, como aconteceu já uma década com Heath Ledger como o Cotinga do “Batman, o cavaleiro das trevas”. Se isso acontecer, justiça completa. Mas o filme vale pelo conjunto da obra, elenco, texto, ambientação, fotografia. Veja e reveja sem moderação.