O escritor Machado de Assis, cunhou um extraordinário conceito entre as diferenças que coabitam o Brasil, porém, separadas pelas castas: O Brasil real e o Brasil oficial. Para Machado o país real é bom, e reserva os melhores instintos. O país oficial é caricato e burlesco.
O Brasil oficial é do Capitão Bufão, que ignora a pandemia, afirmando tratar-se de uma “gripezinha” e, quando não, diz que esta se aproxima do “finalzinho” quando, na verdade, ainda estamos na média de 600 vidas ceifadas pela COVID-19 por dia, em total de mais de 165 mil e, talvez, já surfando uma segunda onda. O país oficial é o estado da negação das ciências, da exaltação à ignorância, onde 6.671 militares receberam o auxílio emergencial – criado para aqueles trabalhadores que não teriam renda durante a pandemia – e não devolveram, do descaramento e do sorriso amarelo. O país que será um dos últimos a vacinar seu povo, porque o presidente é obscurantista, obtuso embebido de ignorância ímpar.
O país oficial é glamouroso nas telas, telinhas e telões: explicitamente editado e reeditado nas novelas globais, no Mais Você onde Ana Maria Braga dita receitas às festividades de dezembro da fanfarrona e bolorenta classe média posar de rica, nas redes sociais.
Outro dia, seguindo conselhos do meu fisioterapeuta – meu genro Roberto Freire – exercitando os dedos no meu poderoso Remote Control tropecei no talk show Casos de Família, apresentado pela jornalista Christina Rocha. Programa que é a cara do Brasil real, do qual muita gente “chic” e alguns falsos, pseudos intelectuais torcem o nariz, o denominam de brega e “coisa de pobre”, mas, que certamente, silenciosamente assistem e, na maioria das vezes, se reconhecem nos “casos” expostos: há brigas, puxões de cabelos, gritos, palavrões expressados pelos convidados. Estes que são pessoas comuns das periferias das grande cidades do “sul maravilha” e seus dramas cotidianos, que na tv, aos olhos de muita gente viram piadas e destas não merecem um olhar mais atencioso, mais caridoso, mais acolhedor ou mesmo uma lágrima de remorso.
O Brasil oficial é arrogante, mentiroso, sujo, ilusionista onde abriga um Luciano Huck, que faz do Lata-Velha, ‘Lar Doce Lar’ e seu Caldeirão de quadros para grandes audiências do Ibope, assim poder suportar sua vida nababesca e, talvez alicerçar uma possível candidatura à Presidência da República; que faz herói um juiz que levou o país a uma crise política e econômica sem precedentes, em nome de uma falsa e mentirosa “guerra” contra a corrupção, prendendo e destruindo reputações, pichando empresas como “antro de corrupção” e hoje, sem constrangimento algum, bem à vontade se encontra trabalhando para estas mesmas empresas. O Brasil Oficial é horrorosamente abençoado por um querubim caído.
No Brasil real moram milhões de almas piedosamente alegres, apesar da dor e das mazelas seculares que lhes impuseram; nele há milhões lutando bravamente nos hospitais, UPAs, Postos de Saúde e outros tantas em laboratórios, freneticamente buscando frear este maldoso vírus. Vivas ao Brasil real.
Como diz Chico, “esta terra ainda vai cumprir seu ideal”.
Epitáfio
O que esperar de 2021? Ora a vacina. Não podemos supor que alguém mude, o sol passe a nascer no oeste, o gato deixe de miar porque começa um Ano Novo. Entretanto, toda e qualquer mudança permitida começa em você e mude enquanto é tempo, depois não adianta cantarolar, com a voz embargada e os olhos cheios de falsas lágrimas: “Devia ter amado mais, ter chorado mais…”.
Salários
Álvaro Dias, como todo político de carreira sem o menor compromisso com o povo, deixou o funcionalismo municipal a ver navios, isto é, sem salários de dezembro. Eleito, agora é a política da malvadeza, do castigo, do “não tô nem aí”, confia na memória curta do povo.
Capitalismo selvagem
Lembre-me de um amigo de direita, que no Governo Lula, tinha um pequeno negócio familiar: vendia peças para computador e, estufava o peito com uma certa galhofa dizia “não vejo a hora desse governo comunista acabar antes que esse barbudo tome tudo que é meu e dê para esses vagabundos comunistas”, respirava e dava uma risada escandalosamente, demosntrando satisfacão pelo dito. O capitalismo tomou-lhe o pão de cada dia, foi obrigado a fechar sua microempresa.
Sangue
Disse-me um velho comunista, seu José, lá em Mossoró, em uma reunião no Sindicato da Construção Civil: “Não há riqueza que não tenha sangue de trabalhador”.
Caricatura do amigo escritor mossoroense Canindé Silva. Confidenciou-me que ela vai fazer pousada na contracapa de seu próximo livro.
Sede
Do meu amigo Delegado(porteiro, filósofo, monge e sociólogo): “Na hora da onça beber água, todos perdem a sede”.
Brito e Silva – Cartunista
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