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CULPA | Capítulo XIII

— Estou recuperada e pronta para seguir em frente — disparei mal entrei na copa.

À mesa, seu Zequinha e dona Maria, ladeados por Lídia, serviam-se do café da manhã.

— Bom dia! — saudou-me o dono da casa, apontando-me uma cadeira.

— Minhas desculpas pelos maus modos, mas é que… — tentei me justificar.

— Lídia, por favor, sirva a nossa amiga. Ela deve se alimentar muito bem para enfrentar o que a espera. Pelo jeito que aqui entrou, acho que o que a ofertamos não lhe seja suficiente — disse dona Maria, enquanto me olhava com um modo acolhedor, apesar da ligeira ironia.

Realmente, ao me sentar, tive um desjejum daqueles: tapioca, cuscuz, queijo, leite quente, ovos fritos, suco e um café fresquinho. Comi e repeti.

Ao final notei que os presentes me olhavam como se satisfeitos com o meu renovado apetite.

Em seguida seu Zequinha se levantou, convidando-me para uma conversa na sala.

De início, encabulada, somente ouvi a voz daquele homem manso, inteligente e sempre preocupado em tornar os meus dramas menos sofridos.

De vez em quando interrompia e me indagava:

— Isso se você concordar com a minha percepção, Creuza?

Eu levantava a face, levando os meus olhos em direção aos dele:

— Claro, concordo.

Meia hora depois me perguntou:

— Seu amor por ele é capaz de enfrentar a tudo e a todos?

Calei-me, como se a minha resposta ficasse embargada pela emoção.

— Não ouviu, Creuza? Quer que eu lhe repita a pergunta?

— Não, não é preciso.

— Então…

— Sim, sou capaz de enfrentar a tudo e a todos.

Quando essa frase escapou dos meus lábios, ele me abraçou, dizendo-me paternalmente:

— Nunca tive nenhuma dúvida de que essa seria a sua escolha, menina!

Ri um pouco, entre os olhos marejados, daquela sua saudação. Eu, menina?!

Abraçamo-nos, enquanto ele chamou por Lídia:

— Lídia, venha cá, por favor. Quero que peça ao Marquinhos para conduzir Creuza até… ao escritório do advogado Mateus. E que ele fique à sua disposição o dia inteiro. Ela terá muitas coisas a acertar ao longo do dia de hoje.

Lídia chegou e me conduziu ao portão. O motorista Marquinhos já me aguardava.

Ao entrar no carro, percebi que os três — Zequinha, Maria e Lídia — esperavam que o carro partisse. Ao me virar em direção à casa, tive a sensação de que esboçavam um sorriso.

& & &

A conversa com o advogado transcorreu de forma proveitosa e decidida. Mateus tudo anotava, como se minhas declarações formassem um tapete onde todo o emaranhado dos últimos dias se revelasse uma peça perfeita e coerente.

Antes que eu saísse, Mateus me confidenciou:

— Esta causa se reveste de muita importância para mim, Creuza. Primeiro, porque é um pedido dos meus queridos avós paternos, pelos quais tenho muita estima, você sabe. Segundo, por conta do desafio profissional que ela representa. E terceiro… Bom, eu gosto de defender as causas humanitárias, em especial aquelas que me relembram os compromissos que jurei ao abraçar esta profissão.

— Não terei como pagá-lo, seu Mateus. Como ficaremos?

— Digamos que o pagamento me chegará de outra forma!

E riu, exibindo um sorriso com a doçura do afeto.

& & &

Antes de seguir para o encontro final, pedi a Marquinhos que passasse em casa. Lá, coloquei batom, borrifei um pouco de lavanda no colo e, em seguida, fiz uma oração à Maria Santíssima:

— Misericordiosa, precisarei da sua divina proteção. Vou enfrentar uma batalha nesta reconstrução da minha vida, assim como a do meu amado. Escolhida por Deus, conduza os nossos passos. Amém.

— Creuza?! Posso entrar? Sou eu: Lídia.

Abri a porta, e Lídia logo percebeu que eu estava pronta para o encontro que selaria o meu futuro.

“… ninguém é tão forte que possa enfrentar sozinho o mundo. Todos nós precisamos uns dos outros…”

Escrito por Clauder Arcanjo

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