— Estou recuperada e pronta para seguir em frente — disparei mal entrei na copa.
À mesa, seu Zequinha e dona Maria, ladeados por Lídia, serviam-se do café da manhã.
— Bom dia! — saudou-me o dono da casa, apontando-me uma cadeira.
— Minhas desculpas pelos maus modos, mas é que… — tentei me justificar.
— Lídia, por favor, sirva a nossa amiga. Ela deve se alimentar muito bem para enfrentar o que a espera. Pelo jeito que aqui entrou, acho que o que a ofertamos não lhe seja suficiente — disse dona Maria, enquanto me olhava com um modo acolhedor, apesar da ligeira ironia.
Realmente, ao me sentar, tive um desjejum daqueles: tapioca, cuscuz, queijo, leite quente, ovos fritos, suco e um café fresquinho. Comi e repeti.
Ao final notei que os presentes me olhavam como se satisfeitos com o meu renovado apetite.
Em seguida seu Zequinha se levantou, convidando-me para uma conversa na sala.
De início, encabulada, somente ouvi a voz daquele homem manso, inteligente e sempre preocupado em tornar os meus dramas menos sofridos.
De vez em quando interrompia e me indagava:
— Isso se você concordar com a minha percepção, Creuza?
Eu levantava a face, levando os meus olhos em direção aos dele:
— Claro, concordo.
Meia hora depois me perguntou:
— Seu amor por ele é capaz de enfrentar a tudo e a todos?
Calei-me, como se a minha resposta ficasse embargada pela emoção.
— Não ouviu, Creuza? Quer que eu lhe repita a pergunta?
— Não, não é preciso.
— Então…
— Sim, sou capaz de enfrentar a tudo e a todos.
Quando essa frase escapou dos meus lábios, ele me abraçou, dizendo-me paternalmente:
— Nunca tive nenhuma dúvida de que essa seria a sua escolha, menina!
Ri um pouco, entre os olhos marejados, daquela sua saudação. Eu, menina?!
Abraçamo-nos, enquanto ele chamou por Lídia:
— Lídia, venha cá, por favor. Quero que peça ao Marquinhos para conduzir Creuza até… ao escritório do advogado Mateus. E que ele fique à sua disposição o dia inteiro. Ela terá muitas coisas a acertar ao longo do dia de hoje.
Lídia chegou e me conduziu ao portão. O motorista Marquinhos já me aguardava.
Ao entrar no carro, percebi que os três — Zequinha, Maria e Lídia — esperavam que o carro partisse. Ao me virar em direção à casa, tive a sensação de que esboçavam um sorriso.
& & &
A conversa com o advogado transcorreu de forma proveitosa e decidida. Mateus tudo anotava, como se minhas declarações formassem um tapete onde todo o emaranhado dos últimos dias se revelasse uma peça perfeita e coerente.
Antes que eu saísse, Mateus me confidenciou:
— Esta causa se reveste de muita importância para mim, Creuza. Primeiro, porque é um pedido dos meus queridos avós paternos, pelos quais tenho muita estima, você sabe. Segundo, por conta do desafio profissional que ela representa. E terceiro… Bom, eu gosto de defender as causas humanitárias, em especial aquelas que me relembram os compromissos que jurei ao abraçar esta profissão.
— Não terei como pagá-lo, seu Mateus. Como ficaremos?
— Digamos que o pagamento me chegará de outra forma!
E riu, exibindo um sorriso com a doçura do afeto.
& & &
Antes de seguir para o encontro final, pedi a Marquinhos que passasse em casa. Lá, coloquei batom, borrifei um pouco de lavanda no colo e, em seguida, fiz uma oração à Maria Santíssima:
— Misericordiosa, precisarei da sua divina proteção. Vou enfrentar uma batalha nesta reconstrução da minha vida, assim como a do meu amado. Escolhida por Deus, conduza os nossos passos. Amém.
— Creuza?! Posso entrar? Sou eu: Lídia.
Abri a porta, e Lídia logo percebeu que eu estava pronta para o encontro que selaria o meu futuro.
“… ninguém é tão forte que possa enfrentar sozinho o mundo. Todos nós precisamos uns dos outros…”