Sobre

Rivalidade

Em pleno mês de conscientização e combate a violência doméstica, o conhecido Agosto Lilás, eu comecei a ouvir o meu mais novo xodó entre as plataformas de áudio digital, o podcast Collor vs Collor, produzido pela Rádio Novelo e apresentado pela jornalista Évellin Argenta, que narra a história da briga familiar que derrubou o governo do primeiro presidente eleito democraticamente pelo povo brasileiro, após a derrubada do Regime Militar. E agora, você que está lendo essa introdução deve estar se perguntando o que uma coisa tem a ver com a outra? Mas calma, que você já vai entender.

A trama narrada no podcast conta como fonte principal das informações as fitas k7 gravadas, pela jornalista Dora Kramer, durante o processo de escrita do livro que ela ajudou Pedro Collor a escrever em 1993.

Toda essa introdução, a mistura com o mês de agosto e a temática da violência contra mulher, nada mais é do que a minha perspectiva sobre todas as versões que cada uma das pessoas ouvidas na produção dão sobre Tereza e Rosane Collor. Tidas por todos como rivais, por supostamente amarem Fernando, que é bom lembrar era esposo de Rosane e cunhado de Tereza.

O que me chama atenção durante toda narrativa é essa rivalidade que todas as pessoas descrevem entre as duas, mesmo não existindo nada que comprove que houve realmente um romance entre os cunhados, e principalmente o ar de sedução, beleza, charme e elegância que dão a Tereza e ao mesmo tempo a mediocridade, falta de carisma, deselegância que dão a Rosane.

Parece que as duas mulheres ali envolvidas, era apenas um símbolo de beleza e carisma, ou o oposto disso, um jogo com requisitos, o que uma tem a outra não tem. E é como se para todo mundo que dá seu depoimento, lá nos anos 90, essas fossem as únicas coisas relevantes que podia ser dito sobre elas.

O que explica de onde vem essa nossa cultura de rivalidade entre mulheres e a predominância do homem como sendo a figura que detém as capacidades técnicas e intelectuais. As mulheres sempre caberão apenas as tarefas de distribuição de beleza e administração dos sentimentos e simpatias.

É claro que depois desses 30 anos tivemos muitas evoluções, que essa coisa de reduzir a mulher, principalmente quando ela é parceira de um homem que detém bastante poder, ou visibilidade, a apenas uma figura de trófeu, mudou muito, as mulheres ganharam mais autonomia, buscaram evoluir, se emancipar, mas a verdade é que no imaginário popular ainda há muita gente que alimenta essa cultura.

Se você digitar no google os nomes de Tereza e Rosane vai encontrar diversas matérias, atuais inclusive, que ainda as trazem como uma espécie de rivais e que também descreve a viúva de Pedro Collor como a musa do impeachment. Ou seja, avançamos sim, lutamos por mais equidade, garantias, espaço? Com certeza, mas ainda predomina para muitos que nós mulheres, estamos aqui nesse mundo, apenas para sermos coadjuvantes.

Eu busco por meio do exercício da advocacia reduzir esses discursos, ampliar nossos espaços, mas também entendo que o caminho será longo, contudo, plenamente alcançável.

Escrito por Clarisse Tavares

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