Abro os olhos e antes mesmo de saber onde estou ou que dia é, antes ainda que a vida me alcance ou que algum pensamento me visite, me inundo de paz. O som dos ventiladores não corta o silêncio, apenas dá ritmo ao momento diário. Inspiro lenta e profundamente e começo a perceber a claridade que se insinua entre as cortinas. Vejo a TV desligada e constato que o espaço ao meu lado na cama está vazio. Me aninho preguiçosamente entre lençóis e travesseiros e tento lembrar sem muito empenho o que tenho pela frente. Trabalho? Afazeres domésticos? Lazer? Fito o teto e os olhos míopes garantem que a manhã não se revele por inteiro. Talvez fosse melhor saber das horas. Enquanto a mão tateia em busca do celular, a mente teima em voltar para o casulo. Seria tão bom estar no mar, deitada languidamente enquanto as marolas massageiam meu corpo. É lá que me encontro com os deuses, que converso com Deus, que paro de pensar. Gosto do silêncio. Mais, preciso dele para tentar organizar meu caos interior. O mostrador do relógio digital avisa que o tempo se esvai. Começo alguns alongamentos enquanto luto contra a vontade de esquecer o mundo e continuar em meu ninho. Estendo o braço, pego o copo na mesinha lateral, tomo bons goles d’água e é hora de levantar. Que seja um bom dia.
Ana Cadengue é jornalista
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