Uma das maiores contratações do Flamengo em 2020, Michael — leiam como quiser — foi eleito revelação do Campeonato Brasileiro de 2019 jogando pelo Goiás. O baixinho invocado infernizou a vida dos zagueiros adversários naquele longínquo 2019. Inclusive os do super campeão Flamengo. Mas até agora o endiabrado ponta não justificou sua contratação milionária. Só conseguiu mesmo foi provocar muita raiva no torcedor rubro-negro. Os experts argumentam que ele não rende no Flamengo o que rendia no Goiás por causa do estilo de jogo. O Flamengo é um time ativo e o Goiás é reativo. O Flamengo marca em cima e o Goiás marca em baixo. O Flamengo joga na pressão alta e o Goiás na pressão baixa. O Flamengo varia muito nas posições e o Goiás é mais conservador. Muita lascívia presente nessas alegorias estilo-ludopédicas.
Essa dificuldade de adaptação a um novo esquema de jogo ou posição, só mostra o quanto o jogador brasileiro vem se tornando cada vez mais limitado a um determinado posicionamento em campo. O craque “fulano de tal” só é craque se jogar no quadrante milimétricamente traçado dentro dos 90m x 120m de um campo de futebol. Mexeu para um lado ou para o outro vira um perna de pau. “No tempo que Don Don jogava no Andaraí” (Dudu Nobre), ser um jogador polivalente (jogar em todas) era uma qualidade. Agora, em tempos de futebol posicional (mais uma dos experts) prevalece a máxima: “quem joga em várias posições não joga bem em nenhuma”.
Voltando ao posicional e limitado territorialmente Michael. Além do futebol empolgante apresentado no Goiás, o que mais me chamou atenção no jogador à época foi o seu nome, sua grafia e pronúncia. É “Maiquel” ou “Michael” com o “ch” com som de “ch” mesmo? A pronúncia que temos ouvido para o seu nome é a segunda. Mas, quem garante que a pronúncia correta do nome do jogador é “Michael” com o “ch” com o som de “ch”? Se quem registrou o menino não queria que o chamassem de “Maiquel” porque resolveu registrá-lo com o nome de Michael como Michael Jackson? Daria certo “Mixael”? Não. Iriam acabar chamando-o de “Micsael”. Eu seria um. “Mijael”? Ficaria esquisito, né não? E por que não, simplesmente Michel? Ora! Mas se podemos complicar, pra que simplificar? E além do mais, desperdiçar a sonoridade do “aaaaaa”? Michaaaaaael!!! E Miguel? Vôts! Nem pensar! Simples demais.
Anos atrás, outro jogador que fez muito sucesso foi o Maicosuel. Ainda deve tá jogando por aí em algum time de menor expressão. Nome legal e original. Seus pais não quiseram complicar a vida do funcionário do cartório na hora do registro, então resolveram aportuguesar o inglês ou escocês (há controvérsias) Maxwell. Lá em Mossoró, tenho um amigo que se chama Max Suel. Acabou virando Suel.
Sempre que me deparo com essas construções vocabulares, principalmente em nomes próprios, me lembro do meu amigo Nicéias, que fez a viagem antes da hora e já está com os bons há alguns anos.
Nicéias era um comerciante muito bem-sucedido lá de Mossoró. Apaixonado por futebol, torcedor do Baraúnas e do Botafogo, sua loja de roupas (que depois se transformou em loja de tudo), a Casa Rinaceas, sempre foi um sucesso de vendas no comércio mossoroense. Mas “peraí”! Rinaceas?! O que significa Rinaceas? De onde Nicéias tirou esse nome? Depois de alguns anos de amizade, descobri que o nome é originado da junção das últimas silabas do nome de sua esposa Severina (rina) e de uma adaptação das duas últimas sílabas do seu (ceas). E se pronuncia “Rinacéas”, com o “e” agudo. Mas bem que poderia ser “Rináceas”, com o “a” agudo. Sempre criativo com nomes, Nicéias tem duas filhas: Rosimary e Rosimary. Isso mesmo. Os nomes são iguais na certidão de nascimento. Só que uma se chama “Rosimare” e a outra “Rosimére”. Ou “Máre” e “Mére”. Arretado demais, né não?
Aí meu amigo Aguiar, José Aguiar do Nascimento, tem um irmão que se chama… José Aguiar do Nascimento. Como a gente diz lá em Mossoró: “Eu se abro com um negócio desses”.
Anos atrás, prestei serviços em uma faculdade em Natal e na manutenção do cadastro de alunos me deparei com algumas pérolas: Leididai, Shirley Maquilaine, Rodistuarte, Mica Raquinen.
E ainda tem a mistura de dois ou mais nomes para formar outro: Franciscleide (Francisco + Cleide), Marcicleo (Márcio + Cleonice), Marivaldo (Maria + Osvaldo), Darlete (Darlan + Arlete), e por aí vai.
Quem me conhece e conhece a história da família de Chicoliveira e Maria do Socorro (papai e mamãe), há de pensar enquanto lê esse texto: “olha só quem tá falando de nomes próprios esquisitos”. Pois é. Tenho cinco irmãs e todas se chamam Mirian. Mirian Gratia Plena, Mirian Stela Maris, Mirian Regina Coeli, Mirian Veraclides e Mirian Magdali, todas com sobrenome Oliveira Costa. Veraclides e Magdali eu acho que são únicas no mundo.
Eu sou Marco Túlio Cícero (filósofo da Roma Antiga). Meus irmãos, Caio Valério Catulo (poeta da Roma Antiga) e Ângelo Giuseppe Roncalli (Papa João XXIII), os três com sobrenome Costa Oliveira. A inversão dos sobrenomes, segundo Chicoliveira autor do artifício, seria perpetuar o seu sobrenome.
Quando uma das mulheres casasse, não correria o risco de perder o Oliveira na hora de adotar o nome de casada.
Chicoliveira é uma criação de Francisco das Chagas Oliveira. Como não gostava da sonoridade de Chico Oliveira separados, resolveu oficializar a pronúncia Chicoliveira como alcunha.
Marco Túlio Cícero é jornalista
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