Por Natália Chagas
As palavras saiam da sua boca com cheiro de mentira. Ela sabia. E ele pensava que não havia problema nenhum. Rigorosamente nada havia acontecido.
Tarde da noite, ele retornou do boteco com os amigos cheirando a cerveja e com histórias para contar. Ela, ainda acordada, tomava um chá na cozinha, cabelos molhados e camisola limpa.
Perguntou se ele tinha fome, ofereceu de fazer um omelete. Ele agradeceu pois havia comido um frango à passarinho neste bar que acabara de conhecer. Um dia ainda a levaria lá, prometeu. Ela havia perdido as contas de quantos lugares pela cidade já tinha ouvido aquela promessa. Mas como sempre acordava tão cedo, ele sempre a lembrava que os horários de jornalistas e professoras não batiam, por isso não a levava. Mas ela ia adorar, ele garantia.
Ele tomava banho. Ela se deitava. Ele ainda voltava ao computador. Sempre havia uma história para preparar ou finalizar para o dia seguinte. Ela tinha a quinta série para ensinar na manhã seguinte. Ele se acomodava na cama. Ela acordava. Mas fingia que não. Ele passava a mão por seus ombros. Ela apertava os olhos para que ele não percebesse qualquer respiração variada.
Ao ouvir seu ronco, ela dormia tranquila. Ainda sentia o cheiro de bebida exalando nos poros. Olhava aquele corpo do seu lado. Enxergava com nitidez loiras, morenas em seu entorno, beijando seus lábios naqueles bares que ele nunca a levou. Justo aquele corpo que já foi tão seu. Ela não se enganava. Sabia o que a vida reservava para ela.
5 da manhã. O despertador toca. Ela levanta rapidamente para o banho. Ele dorme. Ela se prepara. O telefone dele toca. É Marcos, amigo de infância. Conversam pequenas coisas do jornal. Ele pede pra ligar em minutos. Desligam.
Ele pergunta se Alex, professor que dá carona a ela, já chegou. Ela diz que sim. Ele deseja um bom dia. Ela acena de longe. Ele volta a ligação com Marcos:
– Cara, que mulher maravilhosa arrumei pra minha vida. Ontem esperou eu chegar, ofereceu de cozinhar pra mim, apagou de cansada e, já está de pé indo para o trabalho.
Do outro lado da rua, ela entra no carro:
– Oi, meu amor! Que saudades. Acho que ontem, ele não desconfiou, mas vamos tomar mais cuidado das próximas vezes.
Tá?