Sobre

OS “PARÇAS”

Eles são de uma fidelidade e solidariedade mútuas inabaláveis e acima de qualquer crime, pecado ou suspeita. Eles são os parças e habitam o reino fantástico do futebol dos bilhões.

A gíria parça, de parceiro, comparsa, amigo fiel, já se incorporou ao vocabulário dos boleiros ou jogadores de futebol, principalmente dos que viram celebridades. Em algumas ocasiões, a hipocrisia predominante no modus operandi dos parças nos remete a emblemática frase “ninguém solta a mão de ninguém”. Desde que, evidentemente, aplicada em um contexto completamente inverso às suas finalidades originais.

À guisa de informação, a expressão “ninguém solta a mão de ninguém” viralizou nas redes sociais ao emoldurar um desenho (duas mãos entrelaçadas com uma flor ao centro) da artista plástica e tatuadora mineira Thereza Nardelli, de 30 anos, concebido logo após a confirmação da eleição do genocida em 29 de outubro de 2018. A arte traduzia o sentimento de incerteza com o futuro do país e o temor, especialmente por parte da população LGBT, negra, feminina e indígena, além dos refugiados, diante das abomináveis declarações e atitudes que marcaram a trajetória do presidente eleito.

À época, Thereza afirmou que o desenho era seu, mas a frase foi dita por sua mãe: “A gente atravessava um momento difícil na nossa vida pessoal, mas o país também passava por dificuldades. Aí ela virou pra mim e disse, ‘ninguém solta a mão de ninguém’”.

Em postagem do dia 02 de novembro de 2018, a jornalista Lourdes Nassif do Jornal GGN, afirma que o “ninguém solta a mão de ninguém” era o grito de pavor que ecoava nos barracos improvisados onde funcionava o Curso de Ciências Sociais da USP, nos Anos de Chumbo: “De noite, quando as luzes das salas de aula eram repentinamente apagadas, os estudantes buscavam as mãos uns dos outros e se agarravam ao pilar mais próximo. Depois, quando as luzes acendiam, faziam uma chamada entre eles. Muitas vezes acontecia de um colega não responder, pois já não estava mais lá”.

E como agem os parças?

 Robinho, condenado estupro em todas as instâncias na Itália, vive livre, leve e solto por aqui. Apaniguado pela justiça brasileira, que vem postergando o acatamento de um pedido da justiça italiana para que ele cumpra a sentença de nove anos de prisão no Brasil, segue jogando seu futevôlei tranquilamente e sem ser incomodado nas praias de Santos, São Paulo.

Está sempre muito bem acompanhado por parças de fé, dentre eles o bom moço e integrante da tradicional família brasileira, Diego Ribas, que quando indagado sobre o estupro praticado pelo ex-companheiro de Santos Futebol Clube escolheu não falar sobre o assunto, por serem amigos, quase irmãos, desde a mais tenra idade. É assim que funciona entre os parças.

Diego e Robinho são os maiores expoentes da segunda geração dos “Meninos da Vila” (a primeira é de 1978), responsáveis pela conquista do título brasileiro de 2002 pelo Santos após 18 anos de espera e por isso não merecem ser abespinhados enquanto se divertem em sua cidade natal.

Robinho é apenas um caso – entre vários – de atletas ou ex-atletas, treinadores e dirigentes, envolvidos em crimes de violência contra a mulher, e que via de regra são “esquecidos” pela mídia e tratados com naturalidade entre os parças. Mas esse é um assunto a ser desenvolvido com mais detalhes e informações em um outro artigo.

            Eis que agora, no alvorecer de 2024, em mais um singelo caso de filantropia entre parças, descobrimos que Daniel Alves, preso na Espanha por estupro, recorreu a ajuda financeira de Neymar (da terceira geração dos “Meninos da Vila”) e família. O parça de longa data, é claro, não negou a ajuda. Neymar pai transferiu para o estuprador 150 mil euros (R$ 800 mil) que foi utilizado para pagar uma multa à Justiça espanhola. Chamado de “atenuante de reparação de dano causado”, esse valor pode reduzir a pena de Daniel, em caso de condenação.

Além disso, Daniel Alves constituiu como procurador, Gustavo Xisto, um dos representantes jurídicos mais antigos das empresas de Neymar pai, que confirmou a ajuda financeira e jurídica: “A família nos pediu ajuda. O Daniel não tinha dinheiro para se defender, e o prazo para o pagamento da defesa estava expirando. Pense bem, em nenhum momento, eu podia negar ajuda a um amigo que está tentando se defender de uma acusação”. Parça que é parça, não larga a mão de um parça.

Tempos atrás em um texto sobre o desgoverno do genocida, eu escrevi que para aquele período nefasto, a frase “quando a gente pensa que já viu tudo” não fazia mais sentido. O correto seria “a gente ainda não viu nada”. A mesma expressão serve para Neymar & Cia e seu séquito de fiéis parças.

A SÍNDROME DA CANÇÃO PRESA OU “VERME DE OUVIDO”

Desde o réveillon estou com a música “Coladin” grudada no meu cérebro. Já fiz de tudo, mas não tem jeito. Venho atravessando esse mês de janeiro com “Coladin” colado no meu ouvido. Pesquisei sobre essa praga e fiquei sabendo que esse fenômeno é conhecido no meio científico como “síndrome da canção presa” ou “verme de ouvido” (earworm, em inglês). No popular, “música chiclete”.

O negócio é sério! De acordo com o neurologista Rodrigo Santos de Araújo, do Hospital Universitário da UFS (Universidade Federal de Sergipe), quando isso acontece o cérebro entende como uma memória evocada: “Quando a gente ouve uma canção ativa um processo auditivo temporal. Ouve a música e passa. Já a canção presa é uma memória que fica sendo evocada, às vezes por anos, o que chega a incomodar bastante a pessoa. Isso impacta na qualidade de vida. A pessoa está fazendo outra atividade e aquela música ali na cabeça o tempo todo. É difícil tirar do pensamento”. Sentiram o drama?! Nem sei como estou conseguindo escrever esse texto, com “Coladin” martelando no meu juízo.

Uma das dicas apresentadas para solucionar esse infortúnio é ouvir outras canções, principalmente aquelas que estão entre as suas preferidas e se possível cantá-las em voz alta (coisa de doido). Não funcionou.

Como as minhas canções preferidas não resolveram, dias atrás num ato de desespero, aloprei. Apelei para a aberração poética, estética, fonética, linguística, semântica, harmônica e filosófica, “Sinônimo de amor é amar (Sinônimos)”, tema de abertura da novela “Agro e paixão”, nas vozes dos grudentos e gasturentos Chitãozinho e Xororó:

“O amor é feito de paixões/E quando perde a razão
Não sabe quem vai machucar

Quem ama nunca sente medo/De contar os seus segredos
Sinônimo de amor é amar”.

Não resolveu. E foi melhor assim. Esse estrupício sertanejo é infinitamente pior do que o “Coladin”.

Diante do exposto, resolvi compartilhar minha maldição do “Coladin” com vocês. Quem ler esse trecho da música e conhece a melodia, vai ficar com ela grudada na mente pelo resto da vida. O autor do “chiclete” é o simpático Zé Vaqueiro.

“Minha deusa/Até desarrumada é perfeita/

Não nasceu pra ser mulher solteira/

Nasceu pra mim pra ficar ‘coladin’/

‘Coladin’, ‘coladin’, ‘coladin’”.

PS. A primeira vez que ouvi “Sinônimos” foi com Zé Ramalho e até pensei que era uma composição sua. É do eclético Paulo Sérgio Valle, Cláudio Noam e César Augusto.

ENTÃO É NATAL, E O QUE VOCÊ FEZ?…

Perguntou-me a bela Simone através do som ambiente do supermercado, logo aos primeiros dias do mês de dezembro. Pensei cá com os meus botões: o que foi que eu fiz mesmo em 2023? Então lembrei-me de uma resposta que dei a uma amiga de faculdade em uma troca de mensagens, lá pelo mês de setembro. Perguntou-me a amiga: “E aí, Marco. Que que você tem feito?”. Eu respondi: ainda tô festejando a vitória de Lula.

Pois é, minha querida Simone. Em 2023 eu festejei a paz, o amor, a ternura, o carinho, a fraternidade, a solidariedade, a generosidade, a empatia, a alegria, a caridade, a bondade, a amizade, o afeto, o afago, o abraço, a cortesia, a gentileza, o cafuné e o “chêro”, a tolerância, a delicadeza, a compreensão, o altruísmo, a beleza, a felicidade, a benevolência, o humanitarismo, a compaixão, enfim, tudo de bom que representa a volta de Lula Presidente, depois de longos e tenebrosos anos de uma hecatombe humanitária que assolou e quase destruiu o Brasil. Festejei, estou festejando e vou festejar pelo resto da minha vida.

Dito isso – ainda tá em tempo – desejo um excelente 2024 ao magote de “papangus” que prestigiam essa revolucionária Papangu na Rede.

Escrito por Marco Túlio

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EM CARTAZ: As Bestas