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CULPA | Capítulo XVIII

— O preso fugiu! O preso fugiu!…

Licânia acordou com aquele tumulto que brotou da cadeia e, em pouco tempo, tomou as ruas da cidade. Quando chegou ao Mercado, virou domínio público.

Durante o dia só se falava daquela fuga.

— Com certeza, minha gente, teve ajuda de alguém lá de dentro da…

— Feche esta matraca, Acácio! As autoridades, até prova em contrário, estão acima de qualquer suspeita.

— Você é um inocente, Dederardo! Sempre acredita em tudo.

— Prefiro ser considerado um tolo do que um precipitado, seu Acácio. Aguardemos a conclusão das investigações.

Gazumba, com receio de que aquela discussão espantasse os clientes da sua panelada, cuidou de interceder:

— Só sei que os nossos policiais de plantão estão sempre bem alimentados: todos são fiéis clientes da minha banca. Inclusive, meus senhores, hoje o Maguinho se serviu com gosto e ainda levou meia panela para o plantão — disse, caindo em seguida numa gaitada gostosa.

— Lá vai o seu Zequinha de volta para casa. Na certa irá levar a novidade para a sua hóspede! — supôs o João Américo.

— Vai chegar atrasado. A notícia aqui nestas bandas anda a cavalo; o padim Zequinha tem a passada curta — disparou o Gordinho.

— Hoje em dia, ninguém respeita mais o próprio padrinho. Sei não! Sei não! — cutucou o Batista.

Gordinho tentou lançar uma resposta nos peitos do Batista do Zé Aguiar, mas a gagueira lhe tomou o fôlego. E ele ficou apenas de rosto em brasa, tomado pela forte emoção:

— E, e, e…

& & &

— Seu Zequinha, é verdade?

Zequinha fecha o portão, silente, e entra, sem responder nada e em passo decidido.

Ao sentar-se na cadeira de balanço da sala, ele pede água a Lídia.

Maria Djanira se aproxima com o terço na mão e indaga:

— O que vamos fazer, meu velho? Ô, Senhora Santana!

— Em primeiro lugar, manter a calma. E, depois… rezar — diz, enquanto se levanta e segue em direção ao quarto de Creuza. No corredor, para e pergunta:

— Ela já soube?

— Por nós, não.

& & &

Na delegacia.

— Sim, comandante. Sei, sei… mas, senhor…

Silêncio em torno da mesa do delegado. Ele, ao telefone, nervoso, a riscar a madeira do birô com a unha do dedo indicador direito.

— Mas… Sim, obedecerei, são ordens. Agirei. Bom dia.

Ao desligar, leva as mãos à cabeça, suspirando:

— Que diacho!

— Algum problema, seu delegado?

— O caso ganhou proporções estaduais. O secretário de Segurança Pública pede… melhor, exige…

Ao perceber que não estava sozinho, cala-se, interrompendo o que dizia.

Levanta-se e convoca o seu assistente:

— Tenente, recolha o soldado Maguinho à prisão.

— Delegado?!

— Faça isso, são ordens expressas superiores.

& & &

— Prenderam o soldado Maguinho. Ele é o principal suspeito pela fuga do preso.

Aquilo leva Licânia a uma disputa de opiniões. Parte da cidade regozijando-se pela pronta resposta da polícia. Outra parte reclamando que o pau sempre quebra no lombo dos mais fracos.

Na casa do seu Zequinha, a história chega depressa.

— Aonde você vai, minha filha?

Creuza sai sem dizer nada.

— O que vamos fazer, meu velho? Ô, Senhora Santana!

Escrito por Clauder Arcanjo

VIDA LONGA AO SÍTIO CASA FORTE

HUMOR | Em Cartaz: Na Mira do Chefe