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REMINISCÊNCIAS SOBRE UMA GUERRA MITOLÓGICA

POR SÀVIO TAVARES

Pensando sobre a mitológica guerra troiana, cuja narrativa atravessou mais gerações e gerou mais mitos que quaisquer outras de meu conhecimento, que, diga-se de passagem, não é algo de impressionar ninguém, na breve história da humanidade, me veio a ideia de lançar mais uma pitada de tempero nessa panelada, afinal, se “quem conta um conto aumenta um ponto”, quem conta uma guerra, pode perfeitamente acrescentar ou suprimir alguns parágrafos, e se parte dessa guerra é reconhecidamente um mito, uma mentirinha a mais ou a menos não deve fazer-lhe mossa!

Conta-se que quando os pimpolhos de Príamo, rei de Tróia, Heitor e Páris, foram em visita ao rei Menelau, da indomável Esparta; já eram ambos famosos entre os gregos, Heitor por suas façanhas guerreiras, e notáveis qualidades morais, enquanto que seu mano, Páris, era ainda mais conhecido; entre os intelectuais, por seu nível de inteligência rasa; e entre a soldadesca e as meninas de vida fácil, – Aliás, eu discordo totalmente desse conceito, apesar de nunca ter exercido o metiê, não acredito que viver da mais antiga profissão do mundo seja para fracas ou pouco dedicadas! – Fazia jus à mesma alcunha, que sem combinação prévia, ambas as classes o agraciaram: “Centauro”, ser mitológico parte homem parte cavalo, mesmo que por motivos divergentes, a intelectualidade e a plebe ignara compartilhava certa convergência de fins: Os sábios achavam que o mesmo tinha um certo (ou absoluto) atavismo intelectual, como se provou com o rapto da mulher alheia; enquanto que para a soldadesca e as incautas, que naqueles tempos já abundavam – e como davam! – ele teria além das ideias de jerico, parte da anatomia, que remetia ao mesmo animal.

Pois muito bem, durante a visita principesca, estando a linda Helena desfilando as doiradas melenas pelo palácio espartano, ao passar por determinado setor, que dava vistas para a área de banhos masculinos, viu, por entre pilares, o jovem mancebo, Páris, a lavar a chamada “ferramenta de manufaturar gente”, e, contrariando a premissa do colorido capilar, efetuou mentalmente uma aritmética simples; “no mínimo 30 menos no máximo oito, igual a um prazeroso ganho de vinte e dois centímetros, fácil, fácil”; além de que, o candidato a chifrudo, em eleição de voto único, Menelau, que passaria vergonha em sauna de japonês, como todo bom rei espartano, passava muito mais tempo trocando sopapos e se agarrando, à guisa de treinamento, com seus soldados que nas chamadas guerras de alcova, com sua adorável Helena.

Como sempre acontece quando a mulher deseja algo, a rainha espartana não teve dificuldades em comprovar em “test drive”, o acerto de sua matemática, deduziu também, que seria uma troca bastante favorável para o seu amado rei Menelau, o seu(dela, é claro), talento amoroso sub utilizado, por uma vistosa peruca de touro, que o maridão poderia ostentar com garbo e distinção, durante as batalhas que ele tanto amava, esquecendo um simples detalhe: Essa moda de ir à luta com a cabeça ornada de chifres, só entraria em vigor séculos depois, com os vikings, e, como o amante recém conquistado, o seu cônjuge não poderia nunca ser considerado um homem com ideias à frente de seu tempo, menos ainda em termos de adereços de alta costura.

Voltando Menelau de sua faina diária frente às tropas, não encontrou a amada esposa, e sim um bilhete, avisando de sua (dela), ida à manicure, e, como a demora estava passando dos limites, o Menê, (apelido carinhoso, dado por Helena), resolveu interrogar algumas criadas, para tomar pé da situação; foi nesse momento que tomou conhecimento que, a conselho de Fabíola, uma amiga de longa data, Helena teria ido a um determinado salão, e que a mesma teria partido com tal destino, a bordo da famosa biga “Saveiro Preta”, de propriedade e conduzida por seu amigo e hospede de honra, Páris. Devidamente informado do inocente paradeiro da amada, Menelau volta ao quartel, para continuar o pagode junto com a soldadesca, e adentrando de forma sorrateira, pensando em fazer um susto a alguém, acabou ele mesmo sendo assustado, ao ouvir os comentários da rapaziada. Dizia um deles: Rapaz, a Fabíola tem um segredo infalível pra manter as unhas perfeitas; eu a vi repassando a uma amiga, dizia ela : Pinto todo dia! Como o soberano não era tonto nem nada, aplicou ele também os conhecimentos da arte Euclidiana, só que ao invés de subtrair, somou dois mais dois, e o resultado não lhe agradou! Feitas algumas investigações preliminares, deduziu que se não cuidasse na vida, de sua Helena não veria mais nem o rastro, então convocou suas tropas, e, como bem se sabe, homem é tudo igual em qualquer tempo, sendo para ver um corno revoltado, principalmente um rei, choveu voluntário pra acompanhar o cornudo – digo – soberano na viajem de resgate da rameira – falo – rainha, entre eles até mesmo o herói Aquiles, que diziam ser filho de um rei, também dotado de luzidio par de guampas, essas de divina origem, pois sua fiel esposa teria andado brincando de “camisola arribada” com deus, desses de somenos, que teria tomado para si o cargo de padrinho do guri. Claro que as más línguas sempre tinham uma versão turbinada da estória, mas, deixemos para outra ocasião.

Ocorre que, quando do nascimento do indigitado Aquiles, a mãe foi instruída pelo deus pai, mais ou menos poderoso , para lambuzar o rebento com ambrosia e em seguida mergulha-lo no rio Estige, simpatia essa que o tornaria invulnerável, em todas as partes mergulhadas na tal tisana. A mãe do pimpolho, Tétis, fez o que lhe foi ordenado, segurando o filhote pelos mocotós, posição essa que teve como consequência deixar o moleque fraco dos calcanhares, o que veremos futuramente, teve consequências funestas. Tal ponto fraco talvez, pudesse ser evitado, se a diligente genitora tivesse pensado melhor; poderia ter aumentado o nível de invulnerabilidade do guri, segurando-o com o indicador em gancho, acoplado a determinado orifício, para muitos um órgão multiuso, estrategicamente localizado, e durante quase todo o tempo fora das vistas de possíveis inimigos, e até de amigos, se na época já fosse disseminado o uso de cuecas, podendo talvez deixar a guarda aberta(ops!), apenas se o mesmo resolvesse aderir ao uso versátil de tal apetrecho, podendo deixa-lo vulnerável a uma ou outra investida, quase sempre verbal, de um Malafaia ou Bolsonaro da vida, mas, nesses casos, poderia contar com as defesas Jeanwillicas erguidas, de modo que descontada alguma ardência, seria indubitavelmente vantajosa, a forma alternativa de sustentação.

Mas, voltemos ao tema, e vamos botar essa estória pra andar, – A peleja durou por dez anos, com todos os deuses do panteão metendo a colher nesse sangangu, e convenhamos, depois de dez anos de fuque-fuque, a bela Helena já deveria estar meio estragada da lagarta, e com certeza não valia mais tanto rapapé, mas, gosto é gosto! Para abreviar o relato, Menelau e sua trupe resolveram fazer de conta que iam embora, deixando um cavalo de madeira à guisa de presente para os troianos, devidamente recheado de soldados, que, tendo sido levados para dentro da cidade, após as comemorações, aproveitaram a premissa que se “Culo bebitis nec proprietis”, traduzindo – cu de bêbado não tem dono, fizeram pequena extrapolação para “portão de cidade de bêbado, igualmente, pode ser aberto por qualquer um”, e abriram os tais portões para a carnificina, tendo nessa ocasião o famoso Aquiles, recebido uma flechada, disparada segundo consta nos autos, pelo Centauro/Páris, pelo que já vimos, não perdeu com o tempo a mania de cutucar o que não lhe pertence, justo no bendito calcanhar, fato que levou o Aquiles a um óbito de lascar, enquanto que os troianos foram passados a fio de espada.

Não sei para vocês, mas, para mim a coisa poderia ser contada de maneira muito mais lacônica, já que falamos de gregos – Um cara com um pau de cavalo, provocou uma guerra, que terminou com um cavalo de pau!

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