Nos últimos meses, em função da pandemia, com a mudança da rotina em casa, passei a assistir mais filmes infantis com meus dois filhos menores. Impressionante como a leitura atual que faço de muitos desenhos animados ou filmes (curtas e longas metragens) que havia assistido em minha infância é muito diferente. Os olhos são outros.
Recentemente assisti a um filme da Disney com título de Mulan. Esse longa metragem é baseado na lenda chinesa de Hua Mulan que conta a história de uma jovem que para não deixar seu pai ir a guerra, já que ele era uma pessoa debilitada, alistou-se como homem no exército Chinês e lutou por uma década defendendo o imperador. A lenda diz que ela chegou a ser promovida a general.
O que me trouxe de reflexão esse longa e o poema (lenda), que por curiosidade resolvi conhecer melhor, foram os ensinamentos que são passados e que se alicerçam na lealdade, coragem e verdade, bem como, na quebra de paradigma ao colocar uma mulher jovem numa posição que a sociedade da época (século 4 d.C) jamais aceitaria, principalmente, os regimentos militares.
Assistindo ao filme fui fazendo algumas conexões com os tempos que vivemos hoje, ou seja, pensar no mundo de agora a partir de valores como lealdade, coragem e verdade passou a ser um grande desafio. Basta vermos que o mundo vive um grande retrocesso civilizacional, onde virtudes como as citadas viram senso comum em meio a tanta desonestidade, mentira e falta de coragem de muitos para enfrentar tudo isso que nos cerca e nos oprime.
A ascensão no mundo do conservadorismo cria um ambiente extremamente nocivo que vai contagiando grandes massas como se elas estivessem vivendo um transe coletivo e muito dos princípios que um dia muitos foram instigados a acreditar desaparecem como num passe de mágica. A globalização nesse contexto tem uma força arretada.
É importante frisar que a figura da mulher está na centralidade da história e a grande conquista foi exatamente romper com os dogmas da época e se apresentar à frente de seu tempo, postando as virtudes elencadas de forma firme e, sobretudo, tendo a coragem de se mostrar como mulher e enfrentar os homens e a guerra sem se esconder atrás de uma imagem masculina. Isso tem uma simbologia muito forte e se conecta com feminismo da atualidade.
Para mim Mulan, talvez não seja um dos melhores filmes da Disney, mas nos apresenta uma releitura da lenda de Hua Mulan que nos faz refletir sobre a sociedade a qual estamos construindo. Tenho a certeza de que é imprescindível fazermos uma crítica e agirmos contra esse modelo de sociedade deformada, onde os valores éticos não passam de letras mortas e que a opressão sobre os excluídos e as mulheres é pano de fundo para retóricas de certas almas sebosas.
Eu quero e vou continuar acreditando que ainda somos seres pensantes.
*Gutemberg Dias — professor e empresário
Comentários
Carregando...