Vimos, não com surpresa, mas, com estarrecimento e revolta as imagens (algumas publicadas pelos próprios) de pessoas que não estão no grupo prioritário mas que estavam lá lindas leves e soltas tomando a tão aguardada vacina que imuniza contra a Covid.
Pessoas ´de bem` diga-se. Ou seja, aqueles cidadãos que assim se consideram, certamente tementes a Deus e que mantém um mal disfarçado senso de superioridade sobre os demais ´mortais`. Trocando em miúdos, gente que tem dinheiro e poder. E, que por isso, acha que pode e deve ser imunizado em lugar de outras pessoas que stão na frente da fila, como idosos e profissionais de Saúde da linha de frente.
Seria a ironia das ironias se não fosse trágico e nojento mesmo, o fato de que quem está ´furando a fila` para tomar vacina sejam justamente pessoas que há pouco vociferavam contra a vacinação e contra o SUS, além de serem negacionistas da doença e, claro, ´contra a corrupção`. Em suma, a hipocrisia nossa de cada dia. E a aplicação prática do ´farinha pouca, o meu pirão primeiro`.
De pessoas que, repito, certamente professam aquela doutrina de um certo nazareno que predica dar a vida pelo outro, amar ao próximo, enfim, tolices do gênero. Nada novo sob o sol.
Tampouco é nova a prática brasileira da chamada ´Lei de Gerson`, aquele de `levar vantagem em tudo`. Por que o brasileiro médio ´cidadão de bem` que sonega impostos, que está em sinecuras, que faz ´gato` na rede elétrica não usaria de artifícios para se dar bem na hora da vacinação contra uma doença letal?
A frase que dá título a este texto, ´Furar fila para tomar vacina pode, Arnaldo?` é uma evidente gozação com a frase de Galvão Bueno que virou jargão popular.
Sabemos que não pode. Quem faz isso de certa forma sabe que não pode no sentido de permissão legal, mas, no íntimo, acha que pode porque eles, cidadãos de bem classe média-alta, brancos, héteros, cristão, podem tudo na verdade! Haverá punição para eles? Sabemos que não. A cultura não só do vale-tudo mas a do ´pode tudo` para uma casta, está arraigada, inclusive ou principalmente no Judiciário, que há muito se acha uma casta superior, como bem sabemos.
Respondendo à própria pergunta que fiz: Poder não pode, Galvão, mas continuarão furando as filas da vacina. Sem medo e sem constrangimento. No fundo, gente poderosa no Brasil pode tudo, Arnaldo.
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