Sente-se, por favor. Quero falar com você sobre algo que tem me incomodado ultimamente: a velhofobia. Sim, você leu certo. Velhofobia. Esse termo que soa estranho e talvez desconhecido para você é uma forma de preconceito que se manifesta contra pessoas mais velhas, mas não necessariamente pessoas com idade avançada. Basta começar a pintar os cabelos, antes mesmo dos 40, para esse comportamento precipitado se manifestar.
Não é raro ouvir piadas depreciativas sobre a velhice ou vermos pessoas dando um jeitinho de evitar o convívio com os mais velhos. A verdade é que a nossa sociedade é obcecada pela juventude e pela beleza, e acaba menosprezando as pessoas mais velhas. É como se o passar do tempo fosse uma espécie de falha, uma imperfeição a ser corrigida.
Mas por que isso acontece? Será que estamos tão obcecados com a imagem e a aparência que nos esquecemos do valor da experiência e da sabedoria acumuladas pelos idosos? Ou será que estamos simplesmente assustados com a ideia de envelhecer, e por isso projetamos nos outros uma espécie de medo que sentimos em relação a nós mesmos?
De qualquer forma, o preconceito contra os idosos é real, e pode ser tão devastador quanto qualquer outra forma de discriminação. Ele afeta a autoestima e a autoconfiança dos mais velhos, além de limitar as suas oportunidades e possibilidades de realização pessoal e profissional. E o pior de tudo é que muitas vezes não é percebido ou reconhecido como um problema grave.
E se isso já não fosse ruim o suficiente, a velhofobia é agravada ainda mais pela tecnologia. Sim, você leu certo novamente. A tecnologia, essa mesma que nos promete conectividade e inclusão, muitas vezes se torna um obstáculo para os idosos. E não estou falando só de botões muito pequenos, instruções confusas, interfaces pouco intuitivas que podem fazer com que certas ferramentas se tornem um pesadelo para quem não tem familiaridade com ela. Estou falando de comportamentos em redes que, para algumas gerações, não fazem sentido algum, embora seu desconhecimento ou desinteresse possa ampliar o abismo da exclusão geracional.
Idade e conflito de gerações
E quando o velho não é tão velho? Pois é, isso acontece também e com mais frequência do que se imagina ou se percebe. É inevitável que, ao longo da vida, nos deparemos com conflitos de gerações. Afinal, cada época tem suas próprias referências, valores e formas de se relacionar com o mundo. No entanto, o que me preocupa é o preconceito que muitos jovens parecem ter em relação às pessoas com mais de 40 anos.
Não é raro ouvir comentários do tipo: “nossa, você é tão velho!” ou “você não entende nada do mundo de hoje”. Esses comentários, embora possam parecer inofensivos, revelam um preconceito e uma falta de respeito pelas pessoas mais velhas.
O que muitos jovens não percebem é que a vida é uma escola constante, e que cada geração tem suas próprias lições a aprender. Os mais velhos têm a experiência e o conhecimento adquiridos ao longo de décadas de vida, enquanto os mais jovens têm a energia e a curiosidade que os movem para frente. Juntos, eles podem criar um ambiente de aprendizado e evolução mútua.
No entanto, esse diálogo entre as gerações só é possível quando há respeito e abertura para o outro. Quando há preconceito e falta de respeito, o diálogo se fecha e as oportunidades de aprendizado são perdidas. E isso não é bom para ninguém.
Por isso, é importante que os jovens reconheçam o valor da experiência e da sabedoria dos mais velhos, e que os mais velhos reconheçam a energia e a curiosidade dos mais jovens. É importante que haja espaço para o diálogo e a troca de ideias, sem preconceitos ou julgamentos.
O conflito de gerações é inevitável, é verdade, mas o preconceito e a falta de respeito não devem ser. Afinal, a velhice não é um erro ou uma falha. É simplesmente uma fase natural da vida que só afeta os abençoados pela biologia. Todos que recebemos esse privilégio ficamos velhos, mas, enquanto isso não acontece, cabe-nos correr para deixar alguma coisa marcada em nossa brevíssima passagem pela terra.
Você pode até se sentir poderoso enquanto jovem ou brincar com tudo, característica natural dessa fase humana, mas a verdade é que a maioria de nós só será lembrado bem depois, quando os cabelos brancos forem a fonte mais visível de nossa aparência.