O mundo “despinguelou” de vez. São tantas coisas complexas e desconexas, que eu estou “preocupada mente” perplexo (escrevi “preocupadamente” e o corretor ortográfico do word me sugeriu assim – separado – e tem tudo a ver). Tenho a sensação de que estamos vivendo o “pós-fim do mundo”. Será que essa “bagaça” chegou ao fim e não nos demos conta? “Sendo assim”, como canta o fantástico Genival Santos (ouça aqui), resolvi que para este caótico e esbraseante mês de outubro, os badulaques serão dedicados a amenidades musicais. Licença, meu confrade Damião Nobre.
ÁFRICA BRASIL: UM DIA JORGE BEN VOOU PARA TODA A GENTE VER
Dia desses estava ouvindo na Rádio CBN uma entrevista com a jornalista Kamille Viola autora do livro “África Brasil: um dia Jorge Ben voou para toda a gente ver” (ainda não li, mas vou ler) e me dei conta de o quanto Jorge Ben e o disco África Brasil (1976) em especial, influenciaram a minha juventude musical e a minha relação com a música brasileira dali em diante. Nesse disco, Jorge Ben trocou definitivamente o violão acústico pela guitarra elétrica, conta Kamille.
“África Brasil” foi um dos primeiros long plays que ouvi de “cabo a rabo”, sem ter que pular alguma música em busca de outra melhor. Levantar a agulha da radiola só para mudar o lado do LP. Que swingada incrível e contagiante! O mundo ficou mais leve depois de “África Brasil”.
E enquanto ouvia a entrevista, me veio à mente um show fantástico de Jorge Ben no Ginásio da ACDP (Associação Cultural e Desportiva Potiguar) no início dos anos 1980. Fui pesquisar no google em busca de alguma data, alguma notícia sobre esse show e descobri que já havia escrito sobre. Quando digitei “show de jorge ben na acdp em Mossoró rn” dei de cara com o meu antigo blog Marcotuliotudo(aqui) e um texto de 26/06/2015. Ei-lo:
SHOW ARRETADO DE BOM DE JORGE BEN NO GINÁSIO DA ACDP
Ano de 1981, 82, não tenho bem certeza, show de Jorge Ben no Ginásio da ACDP e lá vamos nós, a turma do Alto da Conceição, os inseparáveis: esse que vos escreve, Ricardo de Nininha, Medeiros e Gildo (meu primo “infiltrado” dos Paredões, mas que dormia lá em casa quando saíamos para a farra). É desnecessário dizer que o show foi uma das coisas mais espetaculares que eu já vi na minha vida.
Fim do espetáculo, fomos para o clube tomar algumas boas saideiras. Saímos de lá com o garçom já colocando as cadeiras em cima das mesas. Hora de voltar para casa e a pé. E lá fomos nós, caminhando e comentando sobre o show na madrugada tranquila de Mossoró. Quando chegamos à ponte que dá acesso a ACDP avistamos duas pessoas caminhando a nossa frente. Um negro alto, sarado (como diríamos nos dias de hoje), camiseta, bermuda branca e tênis e outro um pouco mais baixo vestido no mesmo estilo ao seu lado.
Eu disse logo: “rapaz, aquele é Jorge Ben”. E os outros: “cê tá doido? Jorge Ben andando por aqui uma hora dessas?!”. Para conferir aceleramos o passo e chegamos quase a emparelhar com os dois. Era ele mesmo. O outro devia ser o seu empresário. Quando perceberam nossa presença, se viraram, fizeram um sinal de ok, sorriram e seguiram na caminhada. E nós atrás sem dar um pio. E fomos assim até chegar ao Abolição Palace Hotel (antigo Esperança Palace Hotel) no centro da cidade, onde estavam hospedados. Deram boa noite aos quatro “babacas” e entraram no hotel.
E nós seguimos nossa viagem até o Alto da Conceição completamente “embasbacados”!
A SIMPLICIDADE E A EDUCAÇÃO DE PAULINHO DA VIOLA…
Show de Paulinho da Viola na AABB, tipo voz e violão, também início dos anos 1980. Som horrível, público começando a se irritar, técnico de som em desespero e só quem conseguia manter a calma era o educado Paulo César Batista de Faria.
Depois de mais de 20 minutos de tentativas infrutíferas de resolver o problema do som e quando surgiam os primeiros ensaios de algumas vaias e ameaças de abandono do local, Paulinho dirigiu-se ao público: “Pessoal, um momento por favor. Venham aqui pra frente do palco. Acomodem-se como puder. Vamos cantar assim mesmo, sem microfone”.
E cantou todos os seus sucessos por quase duas horas de um show maravilhoso. Sabe aquele “rapaz do violão”, que reúne uma galera ao seu redor e canta e toca violão até fazer calo nos dedos? Paulinho da Viola. Pense num sujeito gente boa!
… E O MAU HUMOR DE GONZAGUINHA
Essa história aconteceu com meu amigo e parceiro de cervejadas em Mossoró, Toinho de Sônia, à época motorista das empresas do português José Patrício. Show de Gonzaguinha na Panizzaria Hut – final dos anos 1980 – e lá se foi Toinho, no carro de luxo do português, apanhar o artista no aeroporto de Fortaleza. Para essa viagem, Patrício providenciou a gravação de uma fita cassete com todos os sucessos do ilustre passageiro.
Assim que Gonzaguinha entrou no carro, Toinho enfiou o K7 no toca fitas Road Star. Não deu nem tempo tocar os primeiros acordes da introdução da primeira música e um emburrado Gonzaguinha já foi dizendo: “Desligue isso aí. Quero silêncio até o fim da viagem”. E só acordou em Mossoró.
Sempre que contava essa história, meu amigo Toinho começava ou concluía com um: “Pense num cabra enjoado”.
BRINQUEDO DE PAPEL MACHÊ…
Outro espaço espetacular que frequentei muito em Mossoró foi o Clube Imperial, que ficava em uma área enorme por trás do Posto Imperial, no começo do Alto de São Manoel. No local funcionava um bar/lanchonete na área do posto, uma boate e mais atrás uma área para grandes festas e shows e um drive-in (lá assisti “Kramer vs. Kramer” e chorei feito um abestado) onde também aconteciam shows mais intimistas.
E foi lá que assisti ao primeiro show de João Bosco. Em 1984. Já namorava com Maria e a música da história é desse ano.
Som perfeito. Muito bem testado e bem “passado”, como se diz no jargão musical. Espaço lotado com todas as mesas ocupadas e mais outro tanto de gente em pé e assim que João Bosco atacou com o primeiro “badadinbedandábidou”, a multidão começou a gritar: “papel machê…! papel machê…! papel machê…!”. A coisa foi crescendo e ele teve que parar a música que estava cantando e se dirigiu ao público: “Gente! Por favor! Eu vim de tão longe para mostrar o meu repertório pra vocês… Não se preocupem que eu vou cantar Papel Machê”. O público se acalmou e ele finalmente pôde nos brindar com todo o seu magnífico repertório.
Infelizmente ficou a sensação de que “Papel Machê” seria a última música. E a minha torcida era para que ele não a cantasse nunca. Mas não deu outra. Logo após “O Bêbado e a Equilibrista” vieram “Papel Machê” e o tradicional: “Boa noite, gente!”. E que noite, gente!
O ESPORTE FEMININO E AS SUAS DIVINAS ATLETAS
Uma de esportes para finalizar.
Na disputa do solo no Mundial de Ginástica na Antuérpia, Bélgica, no domingo 08/10, a maior ginasta do mundo na atualidade, Simone Biles, teve uma atitude magnífica enquanto esperava para subir ao pódio e receber a medalha de ouro da categoria: fez o gesto de “passar a coroa” para a brasileira Rebeca Andrade, medalha de prata, que vem encantando o Brasil e o mundo com suas apresentações.
No dia anterior, na etapa de Sydney, na Austrália, da Liga Mundial de Skate Street (SLS), Rayssa Leal conquistou a medalha de prata. A australiana Chloe Covell, de 13 anos, ficou com o título. Amigas, Rayssa e Chloe comemoraram juntas e a brasileira, atual campeã mundial, fez um gesto de “passar a coroa” para a skatista australiana.
Será que Simone copiou Rayssa ou foi apenas uma coincidência? Não sei. Só sei que o esporte feminino é lindo e as suas atletas são divinas.