Sobre

O mar, a casa e o poeta

“Ontem de manhã quando acordei/Olhei a vida e me espantei/Eu tenho mais de 20 anos…”. Às vésperas de completar 40 anos, essa música não me sai da cabeça, assim como mil e tantos pensamentos que chegam e saem numa profusão incansável de imagens, palavras e sensações (como diria meu suspeitíssimo-amado-amante marido). Como se não bastassem meus atormentados devaneios, recebi o convite do ilustre boêmio e amigo, Túlio Ratto, para fazer parte das linhas desta revista que conheci ainda impressa e agora se faz digital para acompanhar os novos tempos da virtualidade. A partir daí, as divagações, em meio às atividades cotidianas, voltavam-se para o que poderia servir de inspiração para o insigne convite: maternidade, casamento, atualidades sociais ou políticas, relações diárias. Assunto não faltava em minha doce e suave mente fértil (para usar de eufemismos).

Pois bem, há alguns dias, sabendo de uma viagem a negócios à velha, musical, colorida e percussiva Bahia de São Salvador, o já citado suspeitíssimo-amado-amante marido, chamou-nos para acompanhá-lo em suas empreitadas de negócios (para ele somente, porque pra mim e para as crianças seriam alguns dias embaixo do sol cintilante e a brisa refrescante da Praia de Itapoã.

Ah, Itapoã…! Personagem que rima nos versos de Vinícius de Moraes! Onde este fez morada ao lado de sua amada Gessy Gesse. É um encanto este lugar!!! Mais ainda quando tivemos a oportunidade de nos hospedar no hotel ao lado da casa do poetinha, onde podemos conhecer o lado baiano de ser e sentir de um dos maiores artistas brasileiros.

Vinicius sempre foi uma figura curiosa, instigante e sedutora não só com as palavras, mas também pelo modo como conseguia trazer para si pessoas das mais diferentes esferas sociais e idades. No entanto, em algumas situações, preferia o silêncio do lar e o som das ondas do mar que desabrochava permanentemente em frente à sua casa. Em outros momentos, corria dos olhares curiosos dos fãs e se escondia em um porão onde havia uma janelinha que dava em frente ao portão de entrada e de onde se via quem estava à espreita. Esse era o Vina… eternizou-se em páginas, lembranças e notas musicais… Dele nos resta sua obra e inspiração de uma vida intensa vivida em plenitude.

Em entrevista à Zuenir Ventura para a revista Veja, na década de 1980, Drummond, amigo e igualmente poeta, compartilhava uma admiração (recíproca, diga-se de passagem) pelo poeta-diplomata:

“…invejo o conceito que o Vinicius teve de vida , de independência de espírito, de falta de compromissos com as convenções sociais…fazia o que queria e sempre com aquela doçura, com aquela capacidade de encantar que fazia com que as donas de casa mais severas o adorassem “.

Vinicius veio à Bahia e a degustou nos anos 70, época em que o mundo vivia uma efervescência cultural, transcorridos processos de ruptura, de quebras de paradigmas e enfrentamento às repressões. Ele, como um transgressor nato, fazia jus ao tempo que lhe foi entregue; ele como artífice da palavra, deixou-nos um eterno legado. Todos deveriam conhecer a sua essência poética.

Ao “branco mais preto do Brasil”, saravá!!!!!

Escrito por Flor Antero

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